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A Unção dos Enfermos é um sacramento?

É a Unção dos Enfermos um verdadeiro sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo? A pergunta talvez soe como um “escolasticismo” sem propósito, mas tem a sua razão de ser, já que são muitos os hereges que, desde a Idade Média até tempos mais recentes, insistem em negar a natureza sacramental da Unção dos Enfermos. Um deles foi Lutero, que em algumas obras a rebaixa à condição de mero sacramental; outro foi Calvino, para quem a unção de que nos fala S. Tiago em sua carta nada mais é do que parte de um ritual para uma cura carismática.
Não é essa, porém, a fé da Igreja. Segundo a doutrina católica, com efeito, a Unção dos Enfermos é, sim, um verdadeiro sacramento da Nova Aliança, quer dizer, um sinal sensível instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo para significar e produzir em nós a graça divina, mas que foi promulgado pelo Apóstolo S. Tiago. Assim o definiu solenemente no séc. XVI o Concílio de Trento, confirmando o que desde tempos primitivos criam todos os fiéis católicos. Eis as palavras do Concílio (Sessão 14.ª, de 25 nov. 1551: DH 1695):

Esta sagrada unção dos enfermos foi instituída pelo Cristo, nosso Senhor, como sacramento do Novo Testamento, no sentido verdadeiro e próprio, indicado por Marcos (cf. Mc 6, 12-13) e, ademais, recomendado aos fiéis e promulgado por Tiago, Apóstolo e irmão do Senhor. Ele diz: “Está enfermo alguém dentre vós? Chame os presbíteros da Igreja e orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o aliviará, e, se estiver com pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5, 14-15).
Além da palavra definitiva e segura do Magistério da Igreja, que nos garante com autoridade infalível a sacramentalidade da Unção dos Enfermos, sabemos que este não poderia, de forma alguma, ser entendido como um simples “ritual de cura”, porque as próprias Escrituras Sagradas atestam que a finalidade essencial e primária dela não é a cura física. Ouçamos outra vez o que nos diz S. Tiago sobre a administração deste sacramento: “Está enfermo alguém dentre vós? Chame os presbíteros da Igreja e orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o aliviará, e, se estiver com pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5, 14-15).
Ora, é evidente que nenhum dom carismático nem ritual algum de cura, ainda que instituído pela Igreja, tem o poder de salvar e perdoar pecados. Apenas um sacramento, isto é, um sinal eficaz da graça divina instituído por Cristo pode ter essa capacidade. E as palavras do Apóstolo deixam mais do que claro que a Unção dos Enfermos tem, sim, essa virtualidade. De fato, como efeito comum aos outros sacramentos, a Unção dos Enfermos aumenta a graça santificante naquele que a recebe com as devidas disposições: “A oração da fé salvará”; como efeito especial primário, ela confere uma graça reconfortante contra as relíquias do pecado, quer dizer, contra a debilidade causada pelos pecados passados: “O Senhor o aliviará”; e, como efeito especial secundário, a unção pode também perdoar os pecados veniais e mortais, se os houver: “Se estiver com pecados, ser-lhe-ão perdoados”, contanto, é claro, que o enfermo a receba de boa fé e tendo ao menos atrição sobrenatural de suas culpas.
Além disso, é doutrina certa e comum que a Unção dos Enfermos pode, embora isso não seja necessário, devolver a saúde física ao enfermo, se assim for conveniente ao bem espiritual dele. Eis por que nem sempre à recepção da Unção dos Enfermos se segue a cura do corpo: este sacramento não foi instituído, primária e fundamentalmente, para dar saúde física, mas para dar saúde espiritual, fortalecendo o fiel no momento mais delicado da vida, que é a hora da morte, e preparando-o de forma próxima e imediata para entrar na vida eterna.

Fonte: Padre Paulo Ricardo

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