Ora, quem tem vergonha de
estar com boa saúde? Quem tem vergonha de possuir um emprego interessante e bem
remunerado? Ou uma família amorosa? Ninguém, evidentemente. Ao contrário,
sentimos orgulho de nossas riquezas naturais (a saúde, a vida profissional, a
família), e temos mesmo a tendência de ostentá-las.
Por
que bizarrice do espírito humano, então, acontece de sentirmos vergonha das
riquezas sobrenaturais que são nossas, da nossa fé católica, da graça divina?
Podemos nos acanhar delas? É incompreensível, e contudo é um mal demasiadamente
difundido entre os católicos.
A falta, o vício que deveria
nos ameaçar, em boa lógica, não deveria ser a vergonha, mas antes a jactância,
o orgulho. Se sou amigo de um rei, de um homem político, de uma estrela do
cinema ou da música, de um atleta famoso, quero proclamá-lo por cima dos
telhados. Por que, então, se sou amigo de Jesus Cristo, Filho de Deus, Rei dos
reis e Senhor dos senhores, tenho antes a tendência de escondê-lo? O respeito
humano é, em si mesmo, a coisa mais imbecil e inconveniente: e contudo, ele nos
paralisa a cada dia.
O que tememos? Um sorriso de
canto de boca, um gracejo mordaz, uma palavra amarga? Isso não mata ninguém.
Nos nossos países ocidentais, o fato de se mostrar cristão não expõe senão
raramente a consequências mais graves. Os cristãos do Oriente, eles, que vivem
sob o jugo do islã, expõem-se a humilhações, prisões e até mesmo a
assassinatos. Porém, vejam como reagem: exibem-se publicamente como cristãos,
com suas roupas, cruzes e medalhas aparentes.
As procissões prescritas
pela liturgia católica são uma forma de demonstrar a nossa fé em público.
O mais ridículo, em suma, é
que esperamos não sermos reconhecidos como cristãos, quando os de nossa
relação, nossos colegas de trabalho sabem muito bem que nós o somos. Eles
perceberam, por certas atitudes ou palavras que nos escaparam, que algo de
especial nos habita, e não demoraram a fazer a ligação com nossa crença
religiosa. E mesmo esses colegas de trabalho, que julgamos que se rirão de nós
(acontece por vezes, mas não é nenhum martírio), esperam de nós, ao menos
alguns deles, esclarecimentos, respostas a suas questões, explícitas ou
implícitas. Eles se decepcionam, e com razão, se nos calamos molemente numa
conversa em que um católico deveria intervir.
Há apenas uma solução para a
honra de Nosso Senhor, para a nossa própria salvação, para o bem das almas com
as quais convivemos: mudar o rumo do comboio e reencontrar, com a graça de
Deus, o orgulho tranquilo e humilde de sermos católicos. Exprimamos nossa fé em
cada circunstância em que seja útil, sem temores infundados, sem falsos
pudores, sem titubeios. O mundo precisa
da luz de Jesus Cristo, e não temos o direito de escondê-la debaixo do
alqueire.
Nossos pais não a
esconderam, e foi assim que edificaram a Cristandade, as cidades e aldeias em
cujo centro reinava uma igreja, com seu campanário erguido acima de todas as
casas para chamar os homens à oração; onde as catedrais suntuosas causavam
admiração nos passantes, cantando-lhes a glória do Altíssimo; onde calvários
cobriam os caminhos e encruzilhadas em honra da Paixão de Cristo; onde tantos
padres usavam a batina como um estandarte; tantos religiosos e religiosas com
seus hábitos enchiam as ruas, fazendo com que cada transeunte recordasse seu
destino eterno.
Não escondamos
vergonhosamente nossa fé, não temamos manifestá-la, para não merecer a
condenação de Cristo: “Quem se envergonhar de mim e das minhas palavras,
(também) o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na sua majestade”
(Lc 9, 26). Reencontremos este transbordamento de alegria de sermos salvos pela
graça de Cristo, e de oportunamente exprimi-lo com desembaraço. Como diz Santo
Inácio, se o soldado fala espontaneamente da guerra, se o mercador fala de seu
comércio, e o apaixonado daquela que ama, será normal ao católico falar facilmente
de seu amigo, de seu benfeitor, de seu redentor, de seu Deus, de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Quanto
mais intensa é a luz, mais as trevas recuam; quanto mais a vida católica
brilhar publicamente, mais as sombras da apostasia dissiparão.
Façamos, pois, reviver em nós este brio simples de sermos católicos: “Sou
católico, eis a minha glória, minha esperança e minha salvação; meu canto de
amor e de vitória, eu sou católico, eu sou católico”.
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