Sempre aparecem pessoas que fazem voluntária ou involuntariamente uma grande confusão entre a vocação ao celibato, o voto e a virtude da castidade.Para o cristianismo, o casamento não é uma mera escolha natural, mas uma verdadeira vocação sobrenatural reservada a alguns batizados (a maioria deles). Deus é um Pai amoroso e deseja ter muitos filhos no céu. Por isso, chama homens e mulheres, incorporados a Cristo pelo batismo, para que sejam seus cooperadores na geração de novas vidas, cada uma com sua alma imortal, chamadas a serem os habitantes da Jerusalém celeste. A vocação matrimonial transcende o desejo de felicidade humana. Quando um casal resolve preparar-se para casar, deveria ter sentimentos mais ou menos assim: "você é a pessoa ideal que Deus colocou em minha vida para me ajudar a que eu me una mais a Ele". O centro da vida de um casal cristão não são as suas próprias pessoas, pois ambos amam a Deus mais do que a si mesmos e sabem que Ele é o mais importante. Por isso, procuram honrá-Lo em e através do seu amor conjugal, que se torna um sacramento de Cristo graças ao matrimônio sacramental. É algo muito lindo e espiritual. A Igreja maternalmente nos ensina que os atos próprios dos cônjuges são corretos apenas quando ocorre uma entrega plena, a qual, por isso, é aberta à vida, sem que um se proteja ou se defenda do outro, em total abertura e completa doação. Afinal de contas, quando se unem fisicamente, aquela união é expressão de uma união ainda mais alta com o próprio Deus. Por isso, existe uma castidade conjugal, muito rica e profunda. A castidade é a virtude moral que regula o desejo natural do prazer venéreo para que não exceda o limite da razão iluminada pela fé. E é exatamente isso que ocorre também dentro do casamento, não apenas porque os casais não podem sempre dispor de seus corpos, mas também porque precisam fazê-lo como um ato simultaneamente de amor humano e de caridade divina. Aqueles que não são chamados ao matrimônio, independentemente da sua orientação sexual, são chamados, como todos os cristãos, à castidade completa, pois a intimidade carnal somente é lícita quando aberta à vida e, por isso, dentro do matrimônio. Neste sentido, a castidade não é um dom especial, uma vocação específica; é, ao contrário, uma virtude que todo cristão deve praticar, e isso quase nada tem à ver com o fato de alguém ter esta ou aquela orientação para o seu desejo. Em alguns momentos da vida, pode ser mais difícil praticá-la, mas o tempo passa, e tudo pode se ir tornando mais tranquilo, especialmente quando confiamos na graça e na força que nos é dada pela Cruz do Senhor. A vocação ao celibato apostólico se dá sob diferentes formas. Não se refere apenas a uma castidade que deve ser vivida pelas circunstâncias naturais pelas quais a Providência nos vai conduzindo, mas é um chamado específico de Deus a dedicar-se exclusivamente a Ele e à sua obra, o que acontece sob dois modos básicos: 1) a consagração sacerdotal, pela qual Deus se apropria de um homem, decorrendo daí a sua dedicação exclusiva ao serviço divino; 2) ou a consagração religiosa, pela qual uma pessoa se dedica totalmente a Deus, renunciando a casar-se para pertencer totalmente a Ele. Há ainda muitas pessoas que se dedicam exclusivamente a Deus sem nenhum voto, apenas para ocuparem-se inteiramente ao apostolado, e isso por uma vocação específica (eu tenho uma tese acerca disso e, um dia, quem sabe, eu possa expô-la). Quando alguém diz que está dispensado de praticar a virtude da castidade porque não tem a vocação para o celibato está confundindo as bolas. Os primeiros cristãos deram testemunho heroico de virgindade e castidade, chegando até ao martírio, num tempo muito cheio de imoralidade e depravação. Eles brilharam como luzes no meio das trevas e, sustentados pela graça de Cristo, não cederam à tentação de adaptar o Evangelho àquilo que seria mais fácil para os pagãos do seu tempo. E eles venceram.
Não podemos ser sal que perdeu o sabor ou lâmpada debaixo do alqueire. Jesus nos disse que, se cedêssemos, seríamos pisados pelos homens e desprezados por eles. E parece que é justamente isso que tem acontecido nos lugares em que o liberalismo teológico emprestou a fé para a imoralidade.
Temos que ter ideias claras, reconhecer que somos todos pecadores em luta, que caímos, mas que nos recusamos a permanecer na lama e, sobretudo, a chamar o mal de bem e a deixar de pregar o Evangelho para pregarmos a nós mesmos e aos nossos pecados.
É preciso termos coragem e renunciarmos a toda covardia teológica. Não temos o direito de aguar o vinho novo só para justificar-nos em função daquilo que nos é mais cômodo ou que nos proporciona mais seguidores. Somos nós que seguimos a Cristo e não queremos que ninguém se desvie dele para seguir os nossos contratestemunhos.
Padre José Eduardo - Diocese de Osasco - SP
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