São José faz parte dessas realidades da fé que são misteriosas, as quais somente no Céu iremos entender e contemplar com mais profundidade. Mesmo assim, somente Deus é quem enxerga com toda profundidade o mistério desse homem e qual, verdadeiramente, é a sua missão e identidade. Pois bem, para nós iniciarmos a história de S. José, precisamos compreender que ela começa antes de S. José. Na verdade, ela começa na eternidade. Mas não vamos iniciar na eternidade: vamos começar pelas profecias, isto é, como São José foi profetizado por Deus na história.
Antes de falar da vida propriamente dita de São José, a fim de corrigir um equívoco que é muito comum, o equívoco em que as pessoas caem ao ler superficialmente o Evangelho e pensar que Deus planejou tudo — planejou o arcanjo Gabriel, planejou a Virgem Maria, preparou a Imaculada Conceição, planejou a Encarnação de seu Filho —, mas, de repente, no meio do caminho, “tropeçou” com S. José. Ou seja: São José parece que estava ali como um “fator imprevisto” dentro da profecia, como se, depois de fazer tudo, Deus, num segundo pensamento, dissesse assim: “Ah! puxa vida, esqueci o José!… Anjo, vai lá, aparece num sonho e diz-lhe o que está acontecendo”.
Infelizmente é isso que está na cabeça das pessoas! Pensam que, até então, S. José não era santo, e que teria passado primeiro por um momento de provação e tentação (como se ele tivesse planejado o pecado de divorciar-se de Nossa Senhora e escapar sorrateiramente!). Aí, Deus enviou o anjo, e S. José só então aceitou a vontade de Deus e se tornou santo “dali para a frente”.Essa visão está absolutamente fora da realidade, porque a Sagrada Escritura já nos adverte desde o início que São José era “justo”. Eis o maior elogio que o hagiógrafo poderia fazer a um homem! A palavra “santo” não era usada para as pessoas naquela época. Quando diz “justo”, a Sagrada Escritura está dizendo que, verdadeiramente, S. José era santo e já estava num grau eminente de santidade. É importante entender, pois, a grandeza de S. José, a sua santidade desde o ventre da mãe, desde a sua mais tenra infância.
Inicialmente, precisamos ver que S. José é chamado pelo evangelista S. Mateus de “filho de Davi”. Está lá em S. Mateus, cap. 1.º, versículo 20: “Em sonho, um anjo do Senhor lhe disse: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo’”. S. José é chamado de “filho de Davi”. Não somente isso: as duas genealogias, tanto a que consta no próprio Evangelho de S. Mateus como a que está no Evangelho de S. Lucas, mostram que S. José, verdadeiramente, é descendente de Davi. No Novo Testamento, somente S. José e Jesus são designados pela expressão “filho de Davi”.
Por quê? Porque “filho de Davi” é um título messiânico. Com isso, o anjo quer recordar a S. José que ele não deve ter medo nem rejeitar a Virgem SS. por humildade, diante do grande milagre da concepção virginal, da Encarnação do Filho de Deus. S. José, que era humilde e justo, não se sentiu digno de assumir o papel tão alto, tão elevado da paternidade legal do Filho de Deus. Então, o anjo recorda a São José as profecias e diz: “José, filho de Davi”.
Para entender que profecias são essas, precisamos percorrer o Antigo Testamento. Comecemos pelo Segundo Livro de Samuel, cap. 7, em que Davi manifesta ao profeta Natã sua pretensão de fazer uma casa para a Arca da Aliança, dizendo: “Eu estou aqui, numa casa bonita, confortável e bela, enquanto a Arca da Aliança está numa tenda. Isso não é justo. Vou fazer uma casa”. O profeta Natã inicialmente concorda, até que Deus, numa revelação, manda-lhe orientar o contrário: “Nada disso, você não vai fazer uma casa para mim”. E então vem a profecia: “O Senhor te anuncia que Ele, o Senhor, fará uma casa para ti”. Ou seja: Davi quer fazer uma casa para Deus, mas Deus diz: “Não! Eu que vou fazer uma casa para você”. Há aqui um jogo de palavras significativo: a palavra “casa” usada por Davi significa “templo”, uma casa de verdade, um edifício; mas Deus responde dizendo que vai fazer uma “casa” no sentido de uma dinastia.
“Casa de Davi” quer dizer “dinastia de Davi”, aqueles que serão descendentes dele, entre os quais estava José e o grande descendente profetizado, Jesus, o Messias. É aqui que começa então, dentro do Antigo Testamento, a visão de que viria um descendente de Davi. Deus fará uma casa para Davi, dizendo: “Suscitarei um descendente teu para te suceder”. Numa visão imediata, trata-se de Salomão, que vai suceder Davi; mas Deus diz ainda: “Ele construirá uma casa para o meu Nome, e Eu firmarei o trono de seu reino para sempre”. Por causa do termo “sempre”, sabemos que não se trata de Salomão, porque o reino dele não foi para sempre.
“Eu serei para ele Pai, e Ele será para Mim Filho” (2Sm 7, 14). Claramente, as pessoas que interpretavam essa profecia, desde o Antigo Testamento, enxergavam muito mais do que uma referência a Salomão: viam um outro descendente, que aparece claramente nos Salmos e em outras profecias, entre as quais a mais clara está em Isaías, cap. 11, onde se diz: “Um ramo sairá do tronco de Jessé”. Quem é Jessé? É o pai de Davi. Sairá um ramo do tronco de Jessé, e “um renovo brotará de suas raízes. Sobre ele há de pousar o Espírito do Senhor, espírito de sabedoria e inteligência, espírito de conselho e fortaleza, espírito de conhecimento e temor do Senhor, e no temor do Senhor estará o seu prazer” (Is 11, 1-2).
Claramente, essa é uma profecia a respeito do Ungido de Deus, o Cristo, o Messias, Hamashiach (הא משיח), o Messias que virá, o descendente de Davi. Ou seja, um ramo que sairá do tronco de Jessé e será ungido com o Espírito Santo porque “sobre ele há de pousar o Espírito do Senhor”. Para entender que é isso mesmo, lembre-se que cerca de 17 vezes, no Novo Testamento, Jesus é chamado de “Filho de Davi”. Não somente isso: o próprio Jesus glorioso no céu se atribui esse título, como se lê no Apocalipse, cap. 22: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos dar esse testemunho sobre as Igrejas: ‘Eu Sou o rebento e a raiz de Davi’”, “Eu sou a raiz de Davi”.
As profecias falavam de um descendente de Davi. Ora, dentro da tradição, tanto S. José como Nossa Senhora são descendentes de Davi. Só que os Evangelhos não fazem a genealogia de Nossa Senhora, pelo menos não com clareza. O que interessa saber é que tanto a genealogia de Mateus como a de Lucas colocam no final S. José, como descendente de Davi: “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo”. José é o esposo de Maria, dela nasceu Cristo. Claramente, S. Mateus não está inferindo que S. José seja o pai biológico de Jesus; mas, embora não seja pai, por ser Jesus obra do Espírito Santo, S. José é chamado a viver como esposo de Maria e ter sobre Cristo verdadeira autoridade: “ José, filho de Davi, não temas…” ( Mt 1, 20).
Isso quer dizer o seguinte: temos de exorcizar a ideia de que S. José seja uma espécie de “intruso” na história da Salvação. S. José não é um intruso nem um “segundo pensamento” de Deus! Não é que Deus tivesse tudo planejado, e, de repente, aparece um José na história. Não é isso. Deus preparou a vinda de José, porque S. José é o pai davídico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, durante toda a vida de Jesus, ninguém duvidou que Ele fosse filho de Davi, como o cego de Jericó clama: “Jesus, Filho de Davi”. Ao entrar em Jerusalém, Jesus é aclamado: “Hosana ao Filho de Davi”. É exatamente por isso que os sumos sacerdotes entregam Jesus à morte: porque veem nele Aquele em quem as profecias podem se cumprir. Como eles não aceitavam Jesus, não queriam que o povo o identificasse como o verdadeiro Filho de Davi, o Messias, Aquele que viria para nos salvar.
Sim, nós sabemos que Jesus é Filho de Deus, mas existe uma paternidade misteriosa da parte de S. José. Ele não foi, de forma alguma, pai biológico de Jesus, mas existe o fato de que S. José fazia parte do projeto de Deus desde todos os séculos. Ele foi profetizado e, como tal, foi preparado.
Quando o Papa Pio IX, na Bula Ineffabilis Deus, de 8 de dezembro de 1854, declarou o dogma da Imaculada Conceição, ele nos diz — e diz acertadamente — que, quando Deus, nos seus projetos divinos, desde toda a eternidade, viu o pecado do homem, Ele decidiu, por um ato livre de vontade, que iria salvar o ser humano. Deus não estava obrigado a salvar ninguém, mas Ele quis e, querendo salvar, tampouco estava obrigado a se encarnar; mas Ele quis encarnar-se.
Dentro do projeto da economia salvífica, Deus quis o seu Filho Encarnado. Ora, quando Deus decidiu isso, Ele não decidiu sem decidir também os detalhes. Ele pensou, no mesmo ato, na Virgem Maria, e nós podemos — é isso que está dizendo o Bem-aventurado Pio IX — dizer também que, no mesmo ato, pensou em S. José. Por quê? Porque, de fato, havia uma providência divina, um desígnio divino em relação a S. José. Disso não há dúvida nenhuma. Deus, quando faz as coisas, as faz perfeitamente. Nós, seres humanos, podemos fazer as coisas “meio embaralhadas”, mas Deus não é assim. Deus, tendo em vista a missão, verdadeiramente deu a S. José a graça, a santidade e o amor de que ele precisava para cumprir a sua missão.
Isso aqui é uma coisa claríssima, é um princípio inquestionável: quando Deus dá missões especialíssimas e singulares a uma pessoa, Ele dá a ela também graças especialíssimas e singulares. Portanto, tiremos da cabeça a ideia de que S. José “ficou santo” depois, só quando Jesus nasceu. Não, nós estamos falando aqui de um ser humano que, depois da Virgem Maria, é o mais santo de todos os santos: São José é evidentemente mais santo do que todos os outros santos juntos, mais santo até do que os anjos.
Quando, no Evangelho, os filhos de Zebedeu pedem a Jesus que, quando Ele vier no seu Reino, um sente à sua direita e outro à sua esquerda, o Senhor responde que isso Ele não pode fazer, porque já está reservado pelos planos e projetos de Deus. Ora, quem vai sentar à direita e à esquerda de Jesus? Evidentemente, a Virgem Maria e S. José. Quem mais seria, senão aqueles que estiveram com Jesus e eram parte do projeto de Deus da Encarnação? Iremos ver com mais detalhes, durante o curso, que os outros santos estão na ordem da graça, ao passo que São José, de alguma forma, junto com a Virgem Maria, está na ordem da união hipostática, da Encarnação. Ou seja: nenhum santo pode dizer, junto com a Virgem Santíssima e com São José, que colaborou com a Encarnação do Verbo eterno e a salvação da humanidade inteira. Mas S. José colaborou, estava lá por desígnio e projeto de Deus.
Posteriormente, veremos com mais detalhes como a santidade de São José se mostra evidente desde o início e como ela se manifesta. Nós vamos tentar desdobrar isso com clareza durante o curso. Mas, desde já, é preciso ter claro que S. José foi pensado por Deus e está nas profecias porque, desde toda a eternidade, fazia parte de um decreto divino. Disso não há dúvida nenhuma. Por isso, estamos diante de um grande santo, do maior de todos os santos, excetuada a Virgem Maria e, é claro, Jesus, nosso divino Salvador, que não é santo em sentido ordinário: Ele é Santíssimo porque é o próprio Deus que se fez homem.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
Antes de falar da vida propriamente dita de São José, a fim de corrigir um equívoco que é muito comum, o equívoco em que as pessoas caem ao ler superficialmente o Evangelho e pensar que Deus planejou tudo — planejou o arcanjo Gabriel, planejou a Virgem Maria, preparou a Imaculada Conceição, planejou a Encarnação de seu Filho —, mas, de repente, no meio do caminho, “tropeçou” com S. José. Ou seja: São José parece que estava ali como um “fator imprevisto” dentro da profecia, como se, depois de fazer tudo, Deus, num segundo pensamento, dissesse assim: “Ah! puxa vida, esqueci o José!… Anjo, vai lá, aparece num sonho e diz-lhe o que está acontecendo”.
Infelizmente é isso que está na cabeça das pessoas! Pensam que, até então, S. José não era santo, e que teria passado primeiro por um momento de provação e tentação (como se ele tivesse planejado o pecado de divorciar-se de Nossa Senhora e escapar sorrateiramente!). Aí, Deus enviou o anjo, e S. José só então aceitou a vontade de Deus e se tornou santo “dali para a frente”.Essa visão está absolutamente fora da realidade, porque a Sagrada Escritura já nos adverte desde o início que São José era “justo”. Eis o maior elogio que o hagiógrafo poderia fazer a um homem! A palavra “santo” não era usada para as pessoas naquela época. Quando diz “justo”, a Sagrada Escritura está dizendo que, verdadeiramente, S. José era santo e já estava num grau eminente de santidade. É importante entender, pois, a grandeza de S. José, a sua santidade desde o ventre da mãe, desde a sua mais tenra infância.
Inicialmente, precisamos ver que S. José é chamado pelo evangelista S. Mateus de “filho de Davi”. Está lá em S. Mateus, cap. 1.º, versículo 20: “Em sonho, um anjo do Senhor lhe disse: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo’”. S. José é chamado de “filho de Davi”. Não somente isso: as duas genealogias, tanto a que consta no próprio Evangelho de S. Mateus como a que está no Evangelho de S. Lucas, mostram que S. José, verdadeiramente, é descendente de Davi. No Novo Testamento, somente S. José e Jesus são designados pela expressão “filho de Davi”.
Por quê? Porque “filho de Davi” é um título messiânico. Com isso, o anjo quer recordar a S. José que ele não deve ter medo nem rejeitar a Virgem SS. por humildade, diante do grande milagre da concepção virginal, da Encarnação do Filho de Deus. S. José, que era humilde e justo, não se sentiu digno de assumir o papel tão alto, tão elevado da paternidade legal do Filho de Deus. Então, o anjo recorda a São José as profecias e diz: “José, filho de Davi”.
Para entender que profecias são essas, precisamos percorrer o Antigo Testamento. Comecemos pelo Segundo Livro de Samuel, cap. 7, em que Davi manifesta ao profeta Natã sua pretensão de fazer uma casa para a Arca da Aliança, dizendo: “Eu estou aqui, numa casa bonita, confortável e bela, enquanto a Arca da Aliança está numa tenda. Isso não é justo. Vou fazer uma casa”. O profeta Natã inicialmente concorda, até que Deus, numa revelação, manda-lhe orientar o contrário: “Nada disso, você não vai fazer uma casa para mim”. E então vem a profecia: “O Senhor te anuncia que Ele, o Senhor, fará uma casa para ti”. Ou seja: Davi quer fazer uma casa para Deus, mas Deus diz: “Não! Eu que vou fazer uma casa para você”. Há aqui um jogo de palavras significativo: a palavra “casa” usada por Davi significa “templo”, uma casa de verdade, um edifício; mas Deus responde dizendo que vai fazer uma “casa” no sentido de uma dinastia.
“Casa de Davi” quer dizer “dinastia de Davi”, aqueles que serão descendentes dele, entre os quais estava José e o grande descendente profetizado, Jesus, o Messias. É aqui que começa então, dentro do Antigo Testamento, a visão de que viria um descendente de Davi. Deus fará uma casa para Davi, dizendo: “Suscitarei um descendente teu para te suceder”. Numa visão imediata, trata-se de Salomão, que vai suceder Davi; mas Deus diz ainda: “Ele construirá uma casa para o meu Nome, e Eu firmarei o trono de seu reino para sempre”. Por causa do termo “sempre”, sabemos que não se trata de Salomão, porque o reino dele não foi para sempre.
“Eu serei para ele Pai, e Ele será para Mim Filho” (2Sm 7, 14). Claramente, as pessoas que interpretavam essa profecia, desde o Antigo Testamento, enxergavam muito mais do que uma referência a Salomão: viam um outro descendente, que aparece claramente nos Salmos e em outras profecias, entre as quais a mais clara está em Isaías, cap. 11, onde se diz: “Um ramo sairá do tronco de Jessé”. Quem é Jessé? É o pai de Davi. Sairá um ramo do tronco de Jessé, e “um renovo brotará de suas raízes. Sobre ele há de pousar o Espírito do Senhor, espírito de sabedoria e inteligência, espírito de conselho e fortaleza, espírito de conhecimento e temor do Senhor, e no temor do Senhor estará o seu prazer” (Is 11, 1-2).
Claramente, essa é uma profecia a respeito do Ungido de Deus, o Cristo, o Messias, Hamashiach (הא משיח), o Messias que virá, o descendente de Davi. Ou seja, um ramo que sairá do tronco de Jessé e será ungido com o Espírito Santo porque “sobre ele há de pousar o Espírito do Senhor”. Para entender que é isso mesmo, lembre-se que cerca de 17 vezes, no Novo Testamento, Jesus é chamado de “Filho de Davi”. Não somente isso: o próprio Jesus glorioso no céu se atribui esse título, como se lê no Apocalipse, cap. 22: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos dar esse testemunho sobre as Igrejas: ‘Eu Sou o rebento e a raiz de Davi’”, “Eu sou a raiz de Davi”.
As profecias falavam de um descendente de Davi. Ora, dentro da tradição, tanto S. José como Nossa Senhora são descendentes de Davi. Só que os Evangelhos não fazem a genealogia de Nossa Senhora, pelo menos não com clareza. O que interessa saber é que tanto a genealogia de Mateus como a de Lucas colocam no final S. José, como descendente de Davi: “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo”. José é o esposo de Maria, dela nasceu Cristo. Claramente, S. Mateus não está inferindo que S. José seja o pai biológico de Jesus; mas, embora não seja pai, por ser Jesus obra do Espírito Santo, S. José é chamado a viver como esposo de Maria e ter sobre Cristo verdadeira autoridade: “ José, filho de Davi, não temas…” ( Mt 1, 20).
Isso quer dizer o seguinte: temos de exorcizar a ideia de que S. José seja uma espécie de “intruso” na história da Salvação. S. José não é um intruso nem um “segundo pensamento” de Deus! Não é que Deus tivesse tudo planejado, e, de repente, aparece um José na história. Não é isso. Deus preparou a vinda de José, porque S. José é o pai davídico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, durante toda a vida de Jesus, ninguém duvidou que Ele fosse filho de Davi, como o cego de Jericó clama: “Jesus, Filho de Davi”. Ao entrar em Jerusalém, Jesus é aclamado: “Hosana ao Filho de Davi”. É exatamente por isso que os sumos sacerdotes entregam Jesus à morte: porque veem nele Aquele em quem as profecias podem se cumprir. Como eles não aceitavam Jesus, não queriam que o povo o identificasse como o verdadeiro Filho de Davi, o Messias, Aquele que viria para nos salvar.
Sim, nós sabemos que Jesus é Filho de Deus, mas existe uma paternidade misteriosa da parte de S. José. Ele não foi, de forma alguma, pai biológico de Jesus, mas existe o fato de que S. José fazia parte do projeto de Deus desde todos os séculos. Ele foi profetizado e, como tal, foi preparado.
Quando o Papa Pio IX, na Bula Ineffabilis Deus, de 8 de dezembro de 1854, declarou o dogma da Imaculada Conceição, ele nos diz — e diz acertadamente — que, quando Deus, nos seus projetos divinos, desde toda a eternidade, viu o pecado do homem, Ele decidiu, por um ato livre de vontade, que iria salvar o ser humano. Deus não estava obrigado a salvar ninguém, mas Ele quis e, querendo salvar, tampouco estava obrigado a se encarnar; mas Ele quis encarnar-se.
Dentro do projeto da economia salvífica, Deus quis o seu Filho Encarnado. Ora, quando Deus decidiu isso, Ele não decidiu sem decidir também os detalhes. Ele pensou, no mesmo ato, na Virgem Maria, e nós podemos — é isso que está dizendo o Bem-aventurado Pio IX — dizer também que, no mesmo ato, pensou em S. José. Por quê? Porque, de fato, havia uma providência divina, um desígnio divino em relação a S. José. Disso não há dúvida nenhuma. Deus, quando faz as coisas, as faz perfeitamente. Nós, seres humanos, podemos fazer as coisas “meio embaralhadas”, mas Deus não é assim. Deus, tendo em vista a missão, verdadeiramente deu a S. José a graça, a santidade e o amor de que ele precisava para cumprir a sua missão.
Isso aqui é uma coisa claríssima, é um princípio inquestionável: quando Deus dá missões especialíssimas e singulares a uma pessoa, Ele dá a ela também graças especialíssimas e singulares. Portanto, tiremos da cabeça a ideia de que S. José “ficou santo” depois, só quando Jesus nasceu. Não, nós estamos falando aqui de um ser humano que, depois da Virgem Maria, é o mais santo de todos os santos: São José é evidentemente mais santo do que todos os outros santos juntos, mais santo até do que os anjos.
Quando, no Evangelho, os filhos de Zebedeu pedem a Jesus que, quando Ele vier no seu Reino, um sente à sua direita e outro à sua esquerda, o Senhor responde que isso Ele não pode fazer, porque já está reservado pelos planos e projetos de Deus. Ora, quem vai sentar à direita e à esquerda de Jesus? Evidentemente, a Virgem Maria e S. José. Quem mais seria, senão aqueles que estiveram com Jesus e eram parte do projeto de Deus da Encarnação? Iremos ver com mais detalhes, durante o curso, que os outros santos estão na ordem da graça, ao passo que São José, de alguma forma, junto com a Virgem Maria, está na ordem da união hipostática, da Encarnação. Ou seja: nenhum santo pode dizer, junto com a Virgem Santíssima e com São José, que colaborou com a Encarnação do Verbo eterno e a salvação da humanidade inteira. Mas S. José colaborou, estava lá por desígnio e projeto de Deus.
Posteriormente, veremos com mais detalhes como a santidade de São José se mostra evidente desde o início e como ela se manifesta. Nós vamos tentar desdobrar isso com clareza durante o curso. Mas, desde já, é preciso ter claro que S. José foi pensado por Deus e está nas profecias porque, desde toda a eternidade, fazia parte de um decreto divino. Disso não há dúvida nenhuma. Por isso, estamos diante de um grande santo, do maior de todos os santos, excetuada a Virgem Maria e, é claro, Jesus, nosso divino Salvador, que não é santo em sentido ordinário: Ele é Santíssimo porque é o próprio Deus que se fez homem.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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