Como definir com precisão a oração?
Se o homem não possui poços, não pode tirar a água. Igualmente, sem a oração, o homem se desidrata porque não tem mais nem profundidade, nem interioridade, nem uma fonte para irrigar sua vida. A oração abre um oásis sem limites. Ela não consiste fundamentalmente em falar com Deus. Certamente, é normal que dois amigos queiram falar para se conhecer. Desse ponto de vista, Moisés é um bom exemplo, que falava com Deus face a face; o Antigo Testamento nos diz que quando saía desses colóquios íntimos, seu rosto estava iluminado. Não podemos encontrar realmente Deus sem que a sua luz brilhe em nós. Pela oração, deixamos Deus gravar em nosso rosto o esplendor de sua face.
De fato, a oração consiste finalmente em se calar para escutar Deus que nos fala e para ouvir o Espírito Santo que fala em nós. Creio ser importante dizer que não sabemos e não podemos orar sozinhos: é o Espírito Santo que ora em nós e por nós. São Paulo nos diz: "Esse Espírito é quem atesta ao nosso espírito que somos filhos de Deus". Ele prossegue: "Do mesmo modo, também o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza, pois nós não sabemos rezar como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. Aquele que sonda s corações sabe qual é a intenção do Espírito" (Rm 8,16.26).
Creio que a oração pede de algum modo a ausência de palavras, porque a única linguagem que Deus ouve verdadeiramente é o silêncio do amor. A contemplação dos santos se alimenta exclusivamente de um A face a face com Deus no abandono. Não há fecundidade espiritual senão em um silêncio virginal, que não esteja misturado com muitas palavras e ruídos interiores. Deve-se saber desnudar-se diante de Deus, sem disfarces. A oração necessita da honestidade do coração sem mancha.
Trecho do livro "Deus ou nada" de Robert Sarah.
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