Por que é que Deus quer que nós vivamos em família?
Porque Deus não queria que cada homem vivesse sozinho para si, criou-nos
como seres comunitários. Portanto, os homens são naturalmente criados
para a comunidade, para a família. Isto é claro desde as primeiras páginas
da Bíblia, no relato da criação: Adão recebe de Deus Eva, como companheira
colocada ao seu lado. “O homem deu então um nome a todos os animais, às
aves do céu e a todas as feras. Mas o homem não encontrou uma auxiliar
que lhe fosse semelhante. […] Depois, da costela que tinha retirado do
homem, o Senhor Deus modelou uma mulher e apresentou-a ao homem.
Então o homem exclamou: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da
minha carne” (Gn 2,20.22-23a).
Que significado tem a família na Bíblia?
A Bíblia refere muitas vezes a vida na família. No Antigo Testamento, os pais devem passar aos filhos as experiências do amor e da fidelidade de Deus, e transmitir-lhes as primeiras e mais importantes sabedorias da vida. O Novo Testamento relata que também Jesus nasceu numa família concreta. Os seus pais deram-lhe afeto, amor e educação. Porque Deus procurou para si uma família totalmente “normal” para nela nascer como homem e nela crescer, fez da família um lugar muito especial e deu-lhe como comunidade um valor único.
Como é que a Igreja vê a família?
A Igreja vê a família como a primeira e a mais importante comunidade natural. A família tem direitos especiais e está no centro de toda a vida social. Ela é nomeadamente o lugar onde se origina a vida humana e o lugar onde crescem as primeiras relações inter-humanas. A família forma o fundamento da vida, dela surgem todas as ordens sociais. Por causa deste enorme significado é que a Igreja vê a família como uma instituição divina.
O que há de especial na família?
Eu sou amado incondicionalmente – esta é a experiência insubstituível que os homens fazem numa boa família. Diversas gerações vivem juntas e experimentam afeição, solidariedade, estima, compromisso desinteressado, ajuda e justiça. Cada membro da família é reconhecido pelos outros na sua dignidade, aceito e respeitado, sem para isso ter de prestar nenhum serviço. Cada qual é amado tal como é. Cada uma das pessoas não é um meio para alguma coisa, mas fim em si mesma. Por isso surge na família uma cultura da vida que atualmente já não é assim tão evidente. Muitas vezes do que se trata hoje é do que cada um pode ou dá (por exemplo, em dinheiro). Frequentemente, predomina nos nossos dias uma ênfase naquilo que é material. Temos aqui uma mentalidade que desafia as famílias e até muitas vezes as destrói.Sim. Nas sociedades modernas, muitas vezes já não há convicções morais nem religiosas que sejam partilhadas por todos. Além disso, o mundo tornou-se extremamente complexo. Cada domínio da realidade funciona segundo regras próprias. Isso atinge também as famílias. Para a Igreja, do que se trata é do bem-estar e da dignidade de cada uma das pessoas. Isso envolve todos os domínios. Em parte nenhuma estão as pessoas em melhores mãos do que numa cultura da vida norteada por elevados ideais e boas relações familiares. Aqui é possível mostrar e aprender que o respeito mútuo, a justiça, o diálogo e o amor são mais importantes do que tudo para uma convivência bem conseguida. Por isso, a família não é apenas uma instituição entre outras na sociedade moderna, mas é o lugar central da integração humana. É aqui que têm origem os pressupostos sociais e humanos necessários para o Estado e para os diferentes domínios sociais (por exemplo, econômicos, políticos, culturais).
O que é que a família faz por cada pessoa individualmente?
Fazer a experiência familiar é extraordinariamente importante para cada indivíduo. É na família que o homem faz pela primeira vez a experiência de comunidade com os outros que, por natureza, se encontram com ele, querendo-lhe bem, e o amam e aceitam sem reservas. Numa atmosfera tão positiva, pode cada membro da família desenvolver as suas capacidades e preparar-se para o confronto com todos os que há de encontrar na vida e preparar-se para isso. É justamente isso que também pretende uma educação cristã do homem. Ao mesmo tempo, as pessoas individualmente na família fazem a experiência do que significa assumir responsabilidades, pois cada membro da família não pode simplesmente viver apenas para si mesmo. De cada papel, o dos pais, dos avós ou dos filhos, resultam sempre também deveres para com os outros membros da família.
A família traz também algo para a sociedade?
Sim, pois tudo o que a família faz, a nível interior, para si mesma e para cada um dos seus membros, é também relevante para a sociedade. De fato, uma sociedade só pode ter sucesso se cada um dos seus membros estiver bem, quando se sente amado e aceite. Na família pode fazer-se a experiência de que, antes da lógica da troca e do mercado, há outra lógica, do dom e da aceitação. Porque cada um aprende também em família o que significam responsabilidade social e solidariedade, isso reverte igualmente em benefício da sociedade no seu conjunto: quem se mostra responsável e solidário nas “coisas pequenas” fará o mesmo nas “grandes”. Onde é que alguém pode aprender a prestar atenção aos pobres, aos doentes ou aos idosos a não ser na família? Onde é que se pode compreender melhor as pessoas que duvidam, que se sentem sós ou abandonadas? Onde é que alguém se tornará sensível pelas situações penosas das estruturas sociais se antes não as tiver vivido em família? Por isso é que a família dá um contributo insubstituível para a “humanização da sociedade” (C. Kissling). Os meios que uma sociedade investe na família não serão necessários em centros de acolhimento temporário, centros educativos ou terapia de drogas.
O que é que a família faz pela sociedade?
Antes de mais, a família é o lugar onde é assegurada a sobrevivência da sociedade. Em segundo lugar, a família assume a tarefa específica da socialização e da educação dos filhos. Nela são transmitidas virtudes, valores e tradições culturais, éticas, sociais, espirituais e religiosas que são fundamentais para cada pessoa consciente de que é livre e responsável. Munidos com esta armadura da educação familiar, os homens podem assumir toda a espécie de tarefas na sociedade. Uma terceira tarefa da família consiste em cuidar do sustento de cada um dos seus membros e em lhes oferecer um espaço pessoal de proteção, de desenvolvimento e de descanso. Em quarto lugar (sobretudo em sociedades envelhecidas), torna-se cada vez mais importante que membros do agregado familiar doentes e incapacitados, e que já não são capazes de trabalhar, sejam afetuosamente tratados em família. Aqui, o olhar alarga-se do núcleo familiar para a geração que vem a seguir, o que pode criar uma profunda solidariedade e ao mesmo tempo identidade.
Fonte: DOCAT - (Tradução popular da Doutrina Social da Igreja Católica)
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