Verdade, autenticidade e paz. Três valores sustentam o pensamento de São Bento até os dias de hoje.Em 476, caiu a cidade de Roma sob os golpes dos bárbaros, ocasionando em muitos habitantes do Império Romano a impressão de que o mundo estava para acabar. Os godos espalhavam por todo o território da Oikouméne com seu espírito belicoso contido por chefes mais prudentes. Foi então que o Bispo de Lião, chamado Euquério, disse estar vivendo “num mundo de cabelos brancos”.
Nesse mundo envelhecido que perdia sua segurança, nasceu em 480 o menino Bento, na pequena cidade de Núrsia. Havia de renovar a história com meios simples, mas correspondentes ao que a pessoa humana traz em seu íntimo; este é o segredo da sua projeção na História, pois Bento fundou uma família que atravessou quinze séculos chegando até os nossos dias.
Filho de família nobre da Itália central, Bento foi enviado a Roma para estudar Direito e Retórica. Todavia, sem demora verificou que tais disciplinas não lhe saciavam a sede de algo mais, ou seja, do Absoluto. Daí retirar-se para as montanhas de Subiaco, onde viveu como eremita até que o descobriram alguns irmãos, que o chamaram para ser pai de uma comunidade de monges. De Subiaco, o pai espiritual transferiu-se para Monte Cassino, onde fundou um grande mosteiro, do qual se irradiaria um novo sopro de vida sobre o mundo ocidental.
E que fez São Bento para irradiar tal valor? Atuou em duas esferas: na monástica e na cultural.
Na esfera monástica… –S ão Bento é o herdeiro ocidental do monaquismo oriental, que floresceu entre os séculos 5 e 6 sob as Regras de São Pacomio e São Basílio…As palavras “monge”, “monástico” vêm do grego monos, que significa um; o monge é, pois, aquele que procura o UM, o Absoluto, ou seja, a resposta mais cabal aos profundos anseios do ser humano. São Bento recolheu o rico patrimônio espiritual dos orientais e o codificou, adaptando-o às condições do seu tempo e do seu ambiente; escreveu uma Regra tal que permitiria aos fortes progredir no caminho das virtudes e não assustaria os mais fracos com suas exigências…..Regra famosa por seu espírito de discernimento e equilíbrio …Regra que assegura ao mosteiro a paz beneditina ou a tranqüilidade da ordem (como diria Sto. Agostinho). Dessa forma, São Bento é o patriarca dos monges ocidentais, que se congregam em várias famílias, cada qual com seu carisma (Confederados, Cistercienses, Trapistas…).
Na esfera cultural..-A procura do Absoluto, segundo São Bento, concretiza-se no lema “Ora et labora”. A oração ou a procura explícita de Deus tem o primado não quantitativo, mas qualitativo, devendo comunicar sentido novo às atividades do monge. O trabalho monástico é efetuado não apenas em vista de um bem-estar imanente ou intramundano, mas em prol da instauração do Reino de Deus neste mundo, Reino-semente, que dará seu pleno fruto na eternidade. Dois foram os setores principais nos quais se exerceu a atividade dos monges: o campo e a biblioteca. Com efeito, os beneditinos ensinaram aos godos o cultivo sistemático da terra (a Regra de São Bento prevê longas horas de trabalho diário no campo); além disso, os discípulos se dedicaram à cópia de obras dos autores clássicos latinos em uma época em que não havia imprensa e tais obras preciosas corriam o risco de se perder. A nossa cultura ocidental muito deve a esse trabalho paciente dos monges copistas. É a este título que São Bento foi proclamado “Patrono da Europa”, festejado em 11 de julho.
Nos seus séculos de existência, a Regra de São Bento formou numerosos pensadores, tanto na área da Teologia como na das ciências profanas. Os mosteiros beneditinos conservam até hoje o cultivo do estudo e da intelectualidade.
E para nossos tempos, que significa São Bento?
Vivemos em um mundo convulsionado e inquieto: de um lado, o materialismo se exprime com pujança; de outro, verifica-se um pulular de novas crenças religiosas . Não estaria nosso mundo cansado e envelhecido “de cabelos brancos” à procura de um rumo certo?
Aos homens de hoje assim irrequietos, São Bento propõe três valores:
1 “Se realmente procura a Deus” É essa a primeira questão colocada a quem chega à escola de São Bento. Ela equivale às questões básicas que todo ser humano propõe a si mesmo: “De onde venho? Para onde vou? Qual o sentido da vida? Que haverá depois da morte?” São Bento responde a tais quesitos, lembrando que o homem é grande demais para satisfazer-se plenamente com bens transitórios; ele é feito para o Absoluto, é um peregrino do Absoluto. Encara seus deveres neste mundo dentro de uma perspectiva de eternidade. É a consciência dessa verdade que levanta os ânimos e faz rejuvenescer.
2 “Sê o que o teu nome indica”, isto é, cultiva a autenticidade, o que implica honestidade, lealdade, sinceridade, NÃO ao “mensalão”… Significa também o amor à Verdade e à Veracidade, a fuga de toda duplicidade falsa… É o anseio de brio e honradez, sem os quais se desfigura a pessoa humana.
3 “Paz” É este um vocábulo característico da Regra e das casas beneditinas. Não quer dizer apenas ausência de guerra, mas “a tranqüilidade da ordem”, a tranqüilidade que resulta do respeito à dignidade do ser humano e à escala de valores. Sem esse respeito, há conflitos e a cultura da morte, que infelicita o gênero humano.
Esses são três pontos da mensagem de São Bento que parecem responder às demandas dos nossos contemporâneos. Com o olhar do Patriarca, contemplando o mundo de hoje, diríamos: o ser humano é como a agulha magnética — é atraída por um Norte invisível, que a torna agitada, enquanto não se volta para ele…Para o seu Norte, que é o Absoluto, autor da honestidade e da paz.
Nesse mundo envelhecido que perdia sua segurança, nasceu em 480 o menino Bento, na pequena cidade de Núrsia. Havia de renovar a história com meios simples, mas correspondentes ao que a pessoa humana traz em seu íntimo; este é o segredo da sua projeção na História, pois Bento fundou uma família que atravessou quinze séculos chegando até os nossos dias.
Filho de família nobre da Itália central, Bento foi enviado a Roma para estudar Direito e Retórica. Todavia, sem demora verificou que tais disciplinas não lhe saciavam a sede de algo mais, ou seja, do Absoluto. Daí retirar-se para as montanhas de Subiaco, onde viveu como eremita até que o descobriram alguns irmãos, que o chamaram para ser pai de uma comunidade de monges. De Subiaco, o pai espiritual transferiu-se para Monte Cassino, onde fundou um grande mosteiro, do qual se irradiaria um novo sopro de vida sobre o mundo ocidental.
E que fez São Bento para irradiar tal valor? Atuou em duas esferas: na monástica e na cultural.
Na esfera monástica… –S ão Bento é o herdeiro ocidental do monaquismo oriental, que floresceu entre os séculos 5 e 6 sob as Regras de São Pacomio e São Basílio…As palavras “monge”, “monástico” vêm do grego monos, que significa um; o monge é, pois, aquele que procura o UM, o Absoluto, ou seja, a resposta mais cabal aos profundos anseios do ser humano. São Bento recolheu o rico patrimônio espiritual dos orientais e o codificou, adaptando-o às condições do seu tempo e do seu ambiente; escreveu uma Regra tal que permitiria aos fortes progredir no caminho das virtudes e não assustaria os mais fracos com suas exigências…..Regra famosa por seu espírito de discernimento e equilíbrio …Regra que assegura ao mosteiro a paz beneditina ou a tranqüilidade da ordem (como diria Sto. Agostinho). Dessa forma, São Bento é o patriarca dos monges ocidentais, que se congregam em várias famílias, cada qual com seu carisma (Confederados, Cistercienses, Trapistas…).
Na esfera cultural..-A procura do Absoluto, segundo São Bento, concretiza-se no lema “Ora et labora”. A oração ou a procura explícita de Deus tem o primado não quantitativo, mas qualitativo, devendo comunicar sentido novo às atividades do monge. O trabalho monástico é efetuado não apenas em vista de um bem-estar imanente ou intramundano, mas em prol da instauração do Reino de Deus neste mundo, Reino-semente, que dará seu pleno fruto na eternidade. Dois foram os setores principais nos quais se exerceu a atividade dos monges: o campo e a biblioteca. Com efeito, os beneditinos ensinaram aos godos o cultivo sistemático da terra (a Regra de São Bento prevê longas horas de trabalho diário no campo); além disso, os discípulos se dedicaram à cópia de obras dos autores clássicos latinos em uma época em que não havia imprensa e tais obras preciosas corriam o risco de se perder. A nossa cultura ocidental muito deve a esse trabalho paciente dos monges copistas. É a este título que São Bento foi proclamado “Patrono da Europa”, festejado em 11 de julho.
Nos seus séculos de existência, a Regra de São Bento formou numerosos pensadores, tanto na área da Teologia como na das ciências profanas. Os mosteiros beneditinos conservam até hoje o cultivo do estudo e da intelectualidade.
E para nossos tempos, que significa São Bento?
Vivemos em um mundo convulsionado e inquieto: de um lado, o materialismo se exprime com pujança; de outro, verifica-se um pulular de novas crenças religiosas . Não estaria nosso mundo cansado e envelhecido “de cabelos brancos” à procura de um rumo certo?
Aos homens de hoje assim irrequietos, São Bento propõe três valores:
1 “Se realmente procura a Deus” É essa a primeira questão colocada a quem chega à escola de São Bento. Ela equivale às questões básicas que todo ser humano propõe a si mesmo: “De onde venho? Para onde vou? Qual o sentido da vida? Que haverá depois da morte?” São Bento responde a tais quesitos, lembrando que o homem é grande demais para satisfazer-se plenamente com bens transitórios; ele é feito para o Absoluto, é um peregrino do Absoluto. Encara seus deveres neste mundo dentro de uma perspectiva de eternidade. É a consciência dessa verdade que levanta os ânimos e faz rejuvenescer.
2 “Sê o que o teu nome indica”, isto é, cultiva a autenticidade, o que implica honestidade, lealdade, sinceridade, NÃO ao “mensalão”… Significa também o amor à Verdade e à Veracidade, a fuga de toda duplicidade falsa… É o anseio de brio e honradez, sem os quais se desfigura a pessoa humana.
3 “Paz” É este um vocábulo característico da Regra e das casas beneditinas. Não quer dizer apenas ausência de guerra, mas “a tranqüilidade da ordem”, a tranqüilidade que resulta do respeito à dignidade do ser humano e à escala de valores. Sem esse respeito, há conflitos e a cultura da morte, que infelicita o gênero humano.
Esses são três pontos da mensagem de São Bento que parecem responder às demandas dos nossos contemporâneos. Com o olhar do Patriarca, contemplando o mundo de hoje, diríamos: o ser humano é como a agulha magnética — é atraída por um Norte invisível, que a torna agitada, enquanto não se volta para ele…Para o seu Norte, que é o Absoluto, autor da honestidade e da paz.
Por: Dom Estevão Bettencourté monge do mosteiro de São Bento e professor de teologia do Seminário São José, da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Foi professor de teologia da PUC-RJ
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