Há outro lugar onde podemos experimentar a Deus que se doa à Igreja: os mosteiros. Aqui encontramos uma realização concreta do que deveria ser a Igreja inteira. Já disse isso muitas vezes, não tenho medo de repeti-lo. A renovação virá dos mosteiros. Convido todos os cristãos a compartilhar por alguns dias a experiência da vida em um mosteiro.
Eles vão experimentar "em pequena escala" aquilo o que a Igreja é em "grande escala". Nos mosteiros, eles experimentarão a primazia dada à contemplação de Deus. Ide aos mosteiros! Em contraste com um mundo de fealdade e de tristeza, esses lugares sagrados são verdadeiros oásis de beleza, simplicidade, humildade e alegria. Nas abadias, os fiéis poderão compreender que é possível colocar Deus no centro de toda a vida. Esse primado da contemplação foi proclamado pelo próprio Cristo quando disse que "uma só coisa é necessária" e que "Maria tinha escolhido a melhor parte, a que não lhe será tirada" (Lc 10, 42) e ainda mais quando Jesus disse a Deus seu Pai "a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo" (Jo 17,3). A contemplação é o coração do cristianismo. Nos mosteiros, é proclamada para sempre e nunca será ab-rogada. Devemos proteger esses preciosos lugares de contemplação. Eles são o presente e o futuro da Igreja. Deus mora lá: ele enche os corações dos monges e das monjas com sua presença silenciosa; ali, toda a vida é litúrgica. E é alimentada pela fé e pelo ofício divino, e consumida pelo amor e pela sarça ardente da presença divina.
Nos mosteiros, também experimentamos a Igreja primitiva, onde os crentes colocam tudo em comum. Todos os dias eles compartilhavam o pão. Hoje, a crise da Igreja se manifesta particularmente em sua fragmentação, suas fissuras que engendram o espírito de partido. Cristo não fundou uma Igreja em que as vozes fossem tão discordantes. A vida dos mosteiros nos permite experimentar a unidade reencontrada.A seu exemplo, as nossas comunidades cristãs devem tornar-se lugares onde possamos compreender a primazia de Deus, mediante a beleza da liturgia, do silêncio, da caridade e da partilha de bens. Devemos ser capazes de "percorrer este caminho que leva a descobrir o Evangelho não como uma utopia, mas sim como a forma plena e real da existência", como dizia Bento XVI, em 13 de junho de 2011, quando do congresso eclesial diocesano de Roma. Nossas comunidades devem se tornar o oásis onde possamos experimentar a verdadeira natureza da Igreja. Ora, "na vida eclesial", disse ele durante sua audiência de 14 de maio de 2008, "fazemos uma experiência de Deus que é mais elevada do que a que alcançamos mediante a reflexão: por ela, nós realmente tocamos o coração de Deus".
Fonte: Trecho do Livro "A noite já se aproxima e o dia já declinou", Cardeal Robert Sarah.
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