Lembra-te de que és pó e de que pó voltarás a ser. Na nossa origem e no nosso fim somos essencialmente o que verdadeiramente somos. Quando nascemos e quando morremos a verdadeira humildade encontra-se em nós. Durante a vida, a tentação da vanglória se aproxima em troca do reconhecimento dos homens, da sociedade e até de nós mesmos. E como também somos encantados pelo que o exterior nos comunica, temos muita dificuldade em analisar mais detidamente cada pessoa, cada fato, cada acontecimento para buscar sempre a sua essência e não se enganar apenas com o que os olhos podem ver. Os prazeres do mundo, a ganância sem fim, tudo isso nos leva a valorizar o que não tem valor algum diante de Deus. E querendo esses valores, mitigamos uma virtude que deveria nos guiar em todas as nossas ações, a humildade.
São Francisco de Assis nos ensina que o homem é o que ele é diante de Deus, nada mais. Em nossa essência, somos verdadeiramente o que somos diante do nosso Criador. O que os homens possam pensar de nós, o que a sociedade possa achar a nosso respeito, o que queremos que os outros pensem sobre nós, nada disso é a Verdade sobre o que realmente somos. E como a Verdade nos liberta, somente seremos verdadeiramente livres quando tivermos a consciência da nossa essência, do que nós somos, de quem verdadeiramente somos diante de Deus. Cientes da nossa verdade seremos felizes porque não mais nos importará o que os outros ou o que a sociedade possa pensar a nosso respeito. Não precisaremos mais de máscaras, podemos agir sem medo de mostrar ao outro o nosso eu verdadeiro.
“Diz-se que um certo passarinho, por nome tataranho, tem uma virtude secreta, no seu grito e nos seus olhos, de afugentar as aves de rapina e crê-se ser esta a razão da simpatia que as pombas lhe dedicam. Assim nós também podemos dizer que a humildade é o terror de satanás, o rei do orgulho, que ela conserva em nós a presença do Espírito Santo e de seus dons e que por isso foi tão apreciada dos santos e santas e tão querida dos corações de Jesus e de sua Mãe.”
No Magnificat, Nossa Senhora diz que o Senhor nela fez maravilhas porque “olhou para a humildade de sua pobre serva”.
As maravilhas de Deus somente podem habitar num coração verdadeiramente humilde e nisso devemos ser imitadores da Santa Mãe de Jesus.
Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo Deus, humilhou-se ao fazer-se homem para carregar sobre si as nossas iniquidades.
Todos os santos de Deus nos dão exemplos de humildade.
A humildade verdadeira e sincera é essencial para que as portas do Céu se abram para nós.
São Francisco de Sales nos fala da humildade nas ações exteriores ao mesmo tempo que enfatiza que a humildade interior é a mais perfeita.
Para este querido santo, a virtude da humildade é contrária ao ato de nos vangloriarmos. Não há verdadeira humildade naquele que está sempre afetado a fazer aparecer o que tem por bem, buscando ostentá-lo e dele se ensoberbecendo.
Ao contrário, exalta a humildade aquele que se esvazia de si para que o Senhor preencha sua miséria com misericórdia, põe em Deus toda sua confiança e tudo o que faz é para mostrar a Sua onipotência em nossa fraqueza.
“O verdadeiro humilde não quer parecer que o é e nunca fala de si mesmo; a humildade, pois, não só procura esconder outras virtudes, mas ainda mais a si mesma”. É o que diz o nosso Santo no livro Filoteia.
E complementa: “Nunca abaixemos os olhos, sem humilharmos o coração; nunca procuremos o último lugar, sem que de bom grado e sinceramente o queiramos tomar. Essa regra é tão geral que não se pode abrir exceção alguma.”
Para sermos humildes, primeiramente, então, precisamos de sinceridade de coração. Precisamos desejar o último lugar, reconhecendo nossa pobreza e que se há algo de bom em nós foi Ele quem fez brotar por sua graça.
Um coração humilde não necessita de honrarias, de reconhecimentos, mas de caridade.
É no exercício da caridade, do amor ao próximo, que as virtudes escondidas pela humildade se revelam, pois a caridade, “não sendo uma virtude humana e mortal, mas celeste e divina e o sol das virtudes, deve sempre dominar sobre todas; de sorte que, se a humildade prejudica a caridade em alguma coisa, é, sem dúvida, uma humildade falsa.”
A perfeição da humildade consiste por isso em preferir o próximo a nós mesmos, justamente porque reconhecemos em nós nossas próprias falhas, baixeza e mesquinhez, nossas fraquezas e abjeções.
Além de reconhecê-las em nós, diz o Santo, devemos até amá-las, pois permitem que exercitemos uma verdadeira humildade diante do nosso irmão.
E sempre que as cometermos, devemos ainda aceitá-las como elas são, com toda sua humilhação e, principalmente, assim que possível e se possível, repará-las; rejeitando assim o pecado com indignação e conservando, com humilde paciência, a nossa abjeção no coração para que nela nos edifiquemos.
O amante da humildade deve ainda conservar sua boa reputação, não porque ela seja um bem desejável em si mesma, mas porque “serve de ornamento à nossa vida e muito nos ajuda a conservar as virtudes”.
E não se trata apenas de manter uma boa reputação, mas de ser em verdade aquilo que os outros julgam de nós.
Por outro lado, a alma verdadeiramente cristã não se pode inquietar por qualquer coisa que se diga sobre si, sob pena de colocar de lado a virtude da humildade para conservar a reputação, sendo aquela muito mais valiosa que esta.
A humildade é a verdade, segundo Santa Teresa D’Ávila. É a verdade que nos liberta. Somente a verdade sobre nós e sobre Deus nos torna verdadeiramente humildes. É a verdade que permite nos reconhecermos pequenos e fracos diante da magnanimidade e glória de Deus.
A Ele e só a Ele devem ser dirigidos todos os louvores e glória. Tudo em nós é graça divina, desde a nossa primeira batida de coração no ventre materno até o último suspiro, quando, enfim, poderemos, pela bondade e misericórdia de Deus, vivermos na eternidade.
Nesse tempo de Quaresma, podemos buscar a conversão do coração à humildade perfeita. Amar ao próximo com todo o valor que ele tem por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus e porque, sendo pecadores, necessitamos redimir e reparar cada uma de nossas iniquidades, sempre com confiança no Cristo Crucificado, Caminho, Verdade e Vida.
Santa Faustina Kowalska escreveu que as graças da misericórdia divina são colhidas com o vaso da confiança em Cristo e que “Quanto mais a alma confiar, tanto mais receberá”.
Vamos seguir este tempo de contrição, com extrema confiança em Jesus Cristo, exercitando a humildade sincera em cada um dos nossos pequenos atos, nas ações comuns do dia a dia, colocando em tudo amor e compaixão, por nossos pais, filhos, irmãos, amigos, desconhecidos.
Amar sempre e mais, sem vanglória e sem vaidade. Só por amor, amor ao Cristo traído, preso, flagelado, cuspido, coroado com espinhos, pregado numa Cruz, ridicularizado, faminto e com sede.
Só por amor ao Cristo que não deixou de ser quem era porque foi vilmente tratado.
Só por amor ao Cristo que deu a vida para nos salvar.
Só por amor ao Cristo que venceu a morte, ao Cristo Ressuscitado, Deus Vivo, Deus Conosco!
Fonte: Família de Jesus
Fonte: Família de Jesus
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