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Como São Paulo, não fique de braços cruzados!

 
A oração não pode tornar-se algo acessório, um simples hábito desvinculado do restante de nossa vida; antes, pelo contrário, tem de ser o motor que nos tire do nosso comodismo e nos impulsione a ir ao encontro dos demais, numa vida de apostolado e verdadeira caridade fraterna.

Embora já tenhamos acenado para isso, precisamos explicar, com clareza e insistência, o que nos faz progredir na vida espiritual e tornar-nos verdadeiramente santos.

Não é o tipo de oração que estamos fazendo, mas o tipo de vida que estamos levando que nos conduzirá à santidade. Por isso, se estamos seguindo todos os conselhos dados até aqui, e a nossa vida não mudou nada, é porque há algo de profundamente errado no nosso jeito de rezar. Provavelmente, temos que reformular alguma coisa, pois a oração bem feita necessariamente nos conduz a uma mudança de vida.

Para nós, cristãos, ao contrário de outras religiões, o sentido da oração e da meditação está no fato de que elas vão nos transformando e configurando a Cristo, de forma que um dia possamos dizer com S. Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).

Se olharmos para os grandes exemplos espirituais, como o próprio S. Paulo, veremos que a oração é um preâmbulo indispensável para o apostolado. Depois de ter sido “atropelado” por Jesus no caminho de Damasco e ter-se convertido ao cristianismo (cf. At 9, 1ss), o Apóstolo dos gentios foi para o deserto da Arábia, onde teve uma intensa vida de oração (cf. Gl 1, 15–17). Após esse tempo de recolhimento com o Senhor, ele retornou para Damasco, onde começou a evangelizar (cf. At 9, 20-22). Como bem sabemos, ao longo de seu apostolado, S. Paulo se consumiu pela salvação dos irmãos, pois, conforme suas próprias palavras: “Caritas Christi urget nos” — “o amor de Cristo nos impele” (2Cor 5,14).

O amor de Cristo faz com que nos deixemos consumir pela salvação dos irmãos. E isso nos leva a um ponto decisivo: tudo o que ensinamos até aqui nos conduz até a terceira morada. Se tivermos uma vida de oração perseverante, como descrevemos, iremos progredir no máximo até a terceira morada, onde então ficaremos estagnados, de tal modo que: ou somos socorridos por Deus, ou não conseguiremos progredir.

Mas o que, afinal, podemos fazer enquanto estamos estagnados espiritualmente? Perseverar na oração, e sobretudo, impelidos pelo amor a Cristo, desenvolver um apostolado para a salvação das almas. Se continuamos rezando, mas não nos doamos amorosamente aos irmãos, não iremos progredir.

Como mencionamos na aula anterior, a vida de apostolado é fundamental, porque ajuda a colocar em ordem as nossas paixões. Para compreender isso, precisamos entender que a nossa vida interior está dividida em três “andares”: a) no mais elevado, estão a inteligência e a vontade, faculdades que utilizamos durante a oração; b) abaixo delas estão as fantasias, que podem ser dominadas por meio das virtudes; c) e por fim, na parte inferior, estão as paixões desordenadas, às quais não temos acesso durante a oração e a meditação, pois só conseguimos ordená-las na vida cotidiana, por meio de ações concretas, renunciando a nós mesmos para combater o egoísta que está dentro de nós.

Por isso, se somos verdadeiramente cristãos e profundamente contemplativos, seremos necessariamente apostólicos. É impossível escolher entre uma vida apostólica e uma contemplativa. Precisamos seguir o caminho trilhado por S. Paulo: a primeira morada da conversão; a segunda morada da oração no deserto da Arábia; e depois, como terceira morada, uma vida de quem verdadeiramente se entregou pelos irmãos num apostolado fervoroso. Com isso, não estamos dizendo que S. Paulo estava apenas na terceira morada quando começou o seu apostolado; mas estamos fazendo uma analogia com esse grande Apóstolo, para mostrar que este é o caminho para todos nós, pois nos fará verdadeiramente contemplativos na ação.

Portanto, não invertamos a ordem da caminhada espiritual. Não comecemos com o apostolado para depois rezar; tampouco queiramos ter uma vida de oração que espera de braços cruzados a santidade, para um dia, quem sabe, ter um apostolado. Nada disso produz frutos. Precisamos obedecer a seguinte ordem: primeiro a conversão; depois a oração; e então, o apostolado. Mas não devemos esperar muito para agir, sob o risco de nos acomodarmos. Ao estabelecer uma vida de oração constante, já podemos “arregaçar as mangas” para levar os outros para Cristo; porque, se na nossa vida de oração amamos Jesus, demonstraremos esse amor dando a Ele irmãos convertidos e santos.

Pe. Paulo Ricardo

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