Consideremos alguns exemplos:
Um homem se dirige a um grupo de
colegas de trabalho que estão falando sobre o chefe e também, de forma
inadequada, sobre algumas mulheres do escritório. Ele sabe que os comentários
depreciativos sobre o chefe são injustos ou até mesmo falsos. Ele também sabe
que falar sobre as mulheres do escritório usando imagens sexuais grosseiras e
referências lascivas é errado. Mas, por querer “se encaixar”, ele entra na
conversa e participa do que sabe que está errado. Ele ri das piadas
inapropriadas e não tenta dirigir a conversa em uma direção mais apropriada.
Ele faz isso porque tem medo de ser rejeitado e está mais preocupado com o que
seus colegas de trabalho pensam dele do que com o que Deus pensa dele. Ele teme
o homem mais do que a Deus. O fato de Deus estar descontente com suas ações é
menos importante do que qualquer colega.
Uma jovem mulher sabe que sexo
antes do casamento é errado e desagradável a Deus. No entanto, ela já namorou
vários homens e dormiu com a maioria deles. Ela faz isso, em parte, porque teme
ser rejeitada. Talvez, se ela não ceder aos desejos dos rapazes que namora,
eles a rejeitem e ela fique sozinha. Ela acha que uma mulher “tem que fazer
isso” para ser popular e desejável. Ela teme o homem mais do que a Deus. O que
os outros pensam é mais importante para ela do que o que Deus pensa. Ela pode
muito bem minimizar a importância de seu pecado dizendo a si mesma: “Bem, Deus
entende”. Mas, ao mesmo tempo, maximiza a importância de acabar desagradando a
homens fracos e falíveis, pensando que desagradá-los seria uma catástrofe. Ela
respeita — isto é, teme — o homem mais do que a Deus.
Um padre de uma paróquia tem um
mandato de Deus e da Igreja para pregar em seu nome, mas ele reluta em pregar
as coisas “difíceis”. Afinal, falar de coisas como aborto, fornicação,
divórcio, contracepção, homossexualidade e eutanásia deixa algumas pessoas
chateadas. Ele teme isso, tem medo de ofender as pessoas, tem medo de ser mal
interpretado. Uma vez, quando falou sobre o aborto (porque o bispo mandara),
alguns paroquianos vieram até ele e disseram que ele não deveria trazer
política para o púlpito. Certa feita, quando pregou sobre o problema do
divórcio (o tema do Evangelho daquele dia), uma mulher (divorciada) se
aproximou dele após a Missa dizendo que se sentia magoada e “excluída”. Experiências
como essas levaram o padre a “jogar com segurança”. Ele sempre começa a homilia
com uma piada e as pessoas parecem amá-lo por isso. Ele escolhe pregar apenas
sobre abstrações e generalidades. Ele exorta as pessoas a serem um pouco mais
gentis, um pouco mais generosas, mas evita ser específico. Ele faz isso porque
teme mais o homem do que a Deus. Que Deus possa ficar triste por seu povo não
estar ouvindo a verdade sobre questões morais importantes ou recebendo
instrução adequada é um medo vago e distante para esse sacerdote; mas uma
pessoa levantando a sobrancelha ao que ele diz é o suficiente para lhe amargar
a semana inteira. Por isso, ele fica em silêncio como profeta, e passa a
agradar as pessoas. Ele respeita — teme — o homem mais do que a Deus.
Uma mãe sabe que deve criar seus
filhos no temor do Senhor e educá-los de maneira piedosa, mas, oh! os protestos
quando ela os manda fazer as tarefas, ou ir para a cama, ou fazer o dever de
casa! É ruim suportar a raiva e a decepção deles. Ela também se lembra de como
seus pais foram severos e de como ela jurou que seria mais amigável com os
próprios filhos. Então, aos poucos, ela vai deixando sua autoridade diminuir, e
os filhos, na maioria das vezes, conseguem o que querem. O marido não tem pulso
firme e quer ser visto como um “cara legal” pelos filhos e amigos. A
insistência de Deus na oração, disciplina e respeito pelos mais velhos dá lugar
ao que os filhos desejam. O mais velho, adolescente, não quer mais ir à Missa.
Mas, afinal, “você não pode impor a religião às crianças”, pensam. Aqui também
os pais temem mais os filhos do que a Deus. Têm mais respeito pelos filhos do
que por Deus.
Eis alguns exemplos do pecado do
respeito humano. Isso está profundamente presente em nossa natureza ferida e
leva a muitos outros pecados. Muitas pessoas estão desesperadas por atenção,
respeito, aceitação e aprovação de outros. Muitas delas, porém (até mesmo
religiosos praticantes), relutam em se preocupar com o que Deus pensa deles ou
se Ele aprova seu comportamento.
Deus tem uma solução direta para
isso: devemos temê-lo, e a ninguém mais. Há um velho ditado que diz: “Se eu me
ajoelhar diante de Deus, poderei estar de pé diante de qualquer homem”. É mais
fácil temer (respeitar) um só do que muitos. Quanto mais aprendemos a temer (respeitar)
a Deus, menos nos preocupamos com o que os outros pensam. Este não é um convite
para se tornar um sociopata, que não se importa com o que os outros pensam.
Devemos ser educados, cuidar de nós mesmos e não provocar brigas
intencionalmente. Mas, no fim das contas, somos instruídos pelo Senhor a nos
libertar do terrível medo daquilo que os outros pensam.
Dizer que essa é uma solução
simples refere-se mais à sua descrição que à sua execução. Porque, com efeito,
não é fácil livrar-se desse impulso tão profundo; na verdade, leva a vida toda.
O primeiro passo para a cura é admitir que temos um problema. Então, começamos
a vê-lo como realmente é, entender seus movimentos e permitir que o Senhor nos
liberte continuamente.
Sejamos também claros: o temor do
Senhor aconselhado aqui não é um temor servil e acovardado. Se, porém, isso é
tudo o que uma pessoa pode dar agora, é melhor do que não ter medo algum! A
verdadeira finalidade é termos um temor filial de Deus, temendo ofendê-lo
porque o amamos. Este tipo de medo do Senhor nos mantém deslumbrados. Trata-se
de ter uma reverência a Ele, enraizada em um profundo amor e gratidão. Por
causa desse amor e gratidão, tememos ofendê-lo mais do que ofender a qualquer
outro.
Talvez algumas citações da Escritura, que tratam de vários aspectos do problema do respeito humano e do remédio do santo temor, sejam uma conclusão adequada para esta reflexão:
- · “Pelo temor do Senhor evita-se o mal” (Pr 16, 6).
- · “Que teu coração não inveje os pecadores, mas permaneça sempre no temor do Senhor” (Pr 23, 17).
- · “Vale mais o pouco com o temor do Senhor que um grande tesouro com a inquietação” (Pv 15, 16).
- · “O seu temor, sempre presente aos vossos olhos, vos preserve de pecar” (Ex 20, 20).
- · “Terrível sois, quem vos poderá resistir, diante do furor de vossa cólera” (Sl 75, 8).
- · “Terrível é Deus na assembleia dos santos, maior e mais tremendo que todos os que o cercam” (Sl 88, 8).
- · “Eu, que me tinha deitado e adormecido, levanto-me, porque o Senhor me sustenta. Nada temo diante desta multidão de povo, que de todos os lados se dirige contra mim” (Sl 3, 6s).
- · “Eu lhes darei um só coração e um mesmo destino, a fim de que sempre me reverenciem, para o seu próprio bem e de seus descendentes” (Jr 32, 39).
- · “Aproximaram-se dele e disseram-lhe: ‘Mestre, sabemos que és sincero e que não lisonjeias a ninguém; porque não olhas para as aparências dos homens, mas ensinas o caminho de Deus segundo a verdade’” (Mc 12, 14).
- · “Ai de vós, quando vos louvarem os homens, porque assim faziam os pais deles aos falsos profetas!” (Lc 6, 26).
- · “Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na sua glória, na glória de seu Pai e dos santos anjos” (Lc 9, 26).
- · “Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena” (Mt 10, 28).
- · “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia” (Jo 15, 18s).
- · “A mim pouco se me dá ser julgado por vós ou por tribunal humano, pois nem eu me julgo a mim mesmo. De nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso sou justificado. Meu juiz é o Senhor” (1Cor 4, 3s).
- · “De ora em diante ninguém me moleste, porque trago em meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6, 17).
- · “Compenetrados do temor do Senhor, procuramos persuadir os homens. Estamos a descoberto aos olhos de Deus, e espero que o estejamos também ante as vossas consciências” (2Cor 5, 11).
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