A história não acabou. Agora é que está começando. A morte não teve a última palavra sobre o Pobre de Nazaré. Pelo contrário, foi ele que, entregando-se voluntariamente à morte, dobrou-a e lhe arrancou o ferrão mais temível.
Não há afirmação tão categoricamente reiterada no Novo Testamento, tanto nos Evangelhos como nos documentos apostólicos, como esta: "Cristo ressuscitou dentre os mortos".
De acordo com a catequese primitiva, a ressurreição não é apenas uma sequência, mas também a consequência da morte de Jesus: isto é, a ressurreição não só sucede cronologicamente depois da morte de Jesus, mas tem sua semente na própria morte de Jesus. Segundo a fórmula cristológica que uns quinze anos depois da morte do Senhor já circulava nas comunidades primitivas, e que Paulo recolheu na Carta aos Filipenses (Fl 2,6-11), Cristo foi obediente até a morte e morte na cruz e "por isso", isto é, a partir desse fato, arrancando dessa raiz, Deus o exaltou...
Sua "passagem" pela morte daria à luz e faria florescer aquele Reino que Jesus, em seus dias mortais, não tinha conseguido instaurar.
Agora, porém, no momento menos esperado, quando os grandes chefes dormiam tranquilamente depois de ter selado e posto guardas no sepulcro, precisamente agora, entra o Pai no reino da morte e, contra toda esperança, resgata o Filho da morte e o constitui como Senhor, pondo em movimento atrás dele um povo novo de crentes, uma multidão incontável de todas as tribos, raças e nações, até o fim do mundo. O grão de trigo, morto e sepultado sob a terra, já é espiga dourada, balançando ao vento. Da morte nasce a vida, da humilhação nasce a exaltação. O Pobre de Nazaré é agora o Senhor Jesus.
Já vimos como os discípulos de Jesus seguiam dificultosamente seu Mestre a caminho de Jerusalém. E, no momento da prova, "todos o abandonaram", deixando-o morrer sozinho. Depois de três dias, abatidos pela vergonha e pela tristeza, e pelo naufrágio de suas ilusões, estavam "com as portas bem fechadas" à espera de que passasse a tempestade e viesse a bonança, para voltar a suas barcas e redes... E agora, de repente, esses desiludidos discípulos aparecem como homens novos, confiantes e valentes, que, com grande criatividade e alta inspiração, colocam-se à frente de um movimento que produziu um impacto instantâneo, e foi avançando incessantemente para diante e para cima, sem que as perseguições ou a incompreensão fossem capazes de detê-lo.
Que é que tinha acontecido? Eles afirmarão mais de uma vez que foi o reencontro com Jesus. Não se cansarão de repetir, como iluminados, e quase obsessivamente, que Jesus, morto e sepulta- do, está vivo; que o tinham visto em lugares diferentes, sem uma combinação prévia; e não se tratava de uma relação permanente com Jesus, mas de visitas esporádicas, cuja iniciativa pertencia a Jesus. Tinham uma absoluta segurança de haver encontrado Jesus ressuscitado. E isso era alguma coisa inquestionável, uma certeza imediata, vivencial, de quem teve uma experiência mareante, que não precisa de explicações nem de justificação alguma. Que tinham entrado numa relação pessoal com ele, uma relação em níveis profundos de fé, adesão e compromisso, e que, por meio dessa relação, tinham recebido um entusiasmo, uma vitalidade, um fogo que os fazia ver com toda clareza que Jesus tinha triunfado para sempre sobre o ódio, a injustiça e a morte. Jesus, ressuscitado e vivo, é a última razão da comunidade dos discípulos, a Igreja em sua expansão trans-histórica universal.
Fonte: Livro "O Pobre de Nazaré", Ignacio Larrañaga
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