Na ascese teresiana goza um papel importante a atitude decidida e
totalitária de entrega a Deus. Teresa a chama “determinada determinação”, com
uma frase muito sua na qual quis realçar a fortaleza e a totalidade da entrega
a Deus. “Determinar-se” é começar uma nova vida; “determinada determinação” ‘’é
encurtar as distâncias e fazer de tudo para não voltar atrás; é fazer uma
“opção fundamental” por Cristo, como agora diremos.
A palavra-chave aparece com força na experiência teresiana nos momentos cruciais de sua vida; e a aplica também em sua pedagogia. Momento de conversão que a santa identifica com a vontade de empreender o caminho da oração: “Falando agora dos
começam a ser servos do amor (que não me parece outra coisa além de nos
determinarmos a seguir por este caminho ao que tanto nos amou” (V 11,1); “Pois
no princípio está a maior dificuldade dos que estão determinados a buscar este
bem e a realizar este empreendimento”(ib. 5). A tensão aumenta em uma passagem
polêmica do Caminho de Perfeição em que a santa defende o que constitui a
essência de sua vida e de seu Carmelo, a oração: “Não vos espanteis, filhas,
com as muitas coisas que é necessário considerar para iniciar esta viagem
divina, que constitui a via régia para o céu… Voltando agora aos que desejam
seguir por ele e não parar até o fim, que é chegar a beber dessa água de vida,
como devem começar? Digo que importa muito, ter uma grande e muito decidida
determinação de não parar enquanto não alcançar a meta, surja o que surgir,
aconteça o que acontecer, sofra-se o que sofrer, murmure quem murmurar, mesmo
que não se tenham forças para prosseguir, mesmo que se morra no caminho ou não
suporte os padecimentos que nele há, ainda que o mundo venha abaixo…” (C 21,
1-2).
Trata-se de uma atitude do
momento da conversão porém que se manifesta em uma condição normal de vida
espiritual até alcançar os mesmo cumes da santidade. Quanto mais aparecem as
dificuldades, maior fortaleza se requer. Tem a beleza do risco assumido
generosamente e do compromisso totalitário da entrega. Com essa atitude de base
tem o espiritual garantida a vitória sobre o demônio e percorrida boa parte do
caminho: “o demônio se afastará depressa se a vir com grande determinação de
não voltar às primeiras moradas, preferindo a isso perder a vida, o descanso e
tudo o que ele lhe oferece. Que seja viril… determine-se com firmeza: vai
pelejar com todos os demônios e não melhores armas do que as da cruz” (1M 1,
6); “a alma que neste caminho da oração mental, começa a caminhar com
determinação… tem andado boa parte do caminho” (V 11, 13). Contando desde o
início da vida espiritual com a presença da cruz, a alma sabe o que escolhe
nessa determinada determinação que terá de renovar constantemente: “… É
fundamental que a alma… decida desde o início seguir com determinação, e sem
querer consolações, o caminho da cruz. O Senhor revelou ser essa a trilha da
perfeição ao dizer: “Toma a tua cruz e segue-me”. Ele é o nosso modelo…” (V 15,
13).
Nos encontramos na
encruzilhada de uma escolha totalitária de Deus que não admite meias medidas,
ele respeita nossa liberdade, porém, sua entrega está condicionada pelo
radicalismo de nossa opção por ele: “Tudo reside em nos entregar a Ele com toda
a determinação, deixando o palácio à sua Vontade, para que Ele ponha e tire
coisas dele como se fosse propriedade sua. E Sua Majestade tem razão; não lhe
neguemos o que nos pede. E como não pretende forçar a nossa vontade, Ele recebe
o que lhe damos, mas não se entrega de todo enquanto não nos damos a Ele por
inteiro” (C 28, 12).
Fonte; Jesus CASTELLANO.
Espiritualidade Teresiana, In: AA. VV. Introduccion a la lectura de Santa
Teresa. EDE, Madrid 1978, p.181-182.
Comentários