"A alegria é compatível com a mortificação e a dor. Opõe-se à tristeza, não à penitência."
"A alegria tem uma origem espiritual, surge de um coração que ama e se sente amado por Deus."
"Deus ama aquele que dá com alegria."
A Igreja quer recordar-nos assim que a alegria é perfeitamente compatível com a mortificação e a dor. O que se opõe à alegria é a tristeza, não a penitência.
II. ALEGRAI-VOS SEMPRE no Senhor; digo-vos mais uma vez: alegrai-vos. Devemos alegrar-nos com uma alegria que há de ser sinônimo de júbilo interior, de felicidade, e que logicamente se manifestará também exteriormente.
“Como se sabe – diz Paulo VI –, existem diversos graus de «felicidade». A sua expressão mais elevada é a alegria ou «felicidade» no sentido estrito da palavra, quando o homem, no nível das suas faculdades superiores, encontra a sua satisfação na posse de um bem conhecido e amado […]. Com muito mais razão chega ele a conhecer a alegria e a felicidade espiritual quando o seu espírito entra na posse de Deus, conhecido e amado como bem supremo e imutável”. E o Papa continua: “A sociedade técnica conseguiu multiplicar as ocasiões de prazer, mas é-lhe muito difícil engendrar a alegria, pois a alegria provém de outra fonte: é espiritual. Muitas vezes, não faltam, com efeito, o dinheiro, o conforto, a higiene e a segurança material; apesar disso, o tédio, o mau humor e a tristeza continuam infelizmente a ser a sorte de muitos”.
O cristão entende perfeitamente estas idéias expressas pelo Sumo Pontífice. E sabe que a alegria surge de um coração que se sente amado por Deus e que, por sua vez, ama com loucura o Senhor; de um coração que, além disso, se esforça por traduzir esse amor em obras, porque sabe – com o ditado castelhano – que “obras é que são amores, não as boas razões”.
Os sofrimentos e as tribulações acompanham todos os homens na terra, mas o sofrimento, por si só, não transforma nem purifica; pode até causar revolta e ódio. Alguns cristãos separam-se do Mestre quando chegam até a Cruz, porque esperavam uma felicidade puramente humana, que estivesse isenta de dor e acompanhada de bens naturais.
Para o amarmos com obras, o Senhor pede-nos que percamos o medo à dor, às tribulações, e o procuremos onde Ele nos espera: na Cruz. A nossa alma ficará então mais purificada e o nosso amor mais forte. Então compreenderemos que a alegria está muito perto da Cruz. Mais ainda: que nunca seremos felizes se não amarmos o sacrifício.
Essas tribulações que, à luz exclusiva da razão, nos parecem injustas e sem sentido, são necessárias para a nossa santidade pessoal e para a salvação de muitas almas. No mistério da corredenção, a nossa dor, unida aos sofrimentos de Cristo, adquire um valor incomparável para toda a Igreja e para toda a humanidade. O Senhor faz-nos ver que tudo – mesmo aquilo que não tem muita explicação humana – concorre para o bem daqueles que o amam.
A dor, quando lhe damos o seu verdadeiro sentido, quando serve para amar mais, produz uma paz íntima e uma profunda alegria. Por isso, em muitas ocasiões, o Senhor abençoa-nos com a Cruz.
Assim temos que percorrer “o caminho da entrega: a Cruz às costas, com um sorriso nos lábios, com uma luz na alma”.
III. O CRISTÃO DÁ-SE A DEUS e aos outros, mortifica-se e é exigente consigo próprio, suporta as contrariedades… e tudo isso, realiza-o com alegria, porque sabe que essas coisas perdem muito do seu valor se as faz arreganhando os dentes: Deus ama aquele que dá com alegria. Não deve surpreender-nos o fato de a mortificação e a penitência nos custarem; o importante é que saibamos abraçá-las com decisão, com a alegria de agradar a Deus, que nos vê.
“«Contente?» – A pergunta deixou-me pensativo. – Ainda não se inventaram as palavras para exprimir tudo o que se sente – no coração e na vontade – quando se sabe que se é filho de Deus”. É lógico que quem se sente filho de Deus experimente esse júbilo interior.
Neste sentido, a experiência que os santos nos transmitem é unânime. Basta recordar a confidência do Apóstolo São Paulo aos fiéis de Corinto: … Estou cheio de consolação, transbordo de gozo em todas as nossas tribulações. E convém lembrar-se de que a vida de São Paulo não foi fácil nem cômoda: Cinco vezes recebi dos judeus quarenta açoites menos um; três vezes fui açoitado com varas; uma vez apedrejado; três vezes naufraguei; passei uma noite e um dia à beira do abismo no mar alto. Nas minhas viagens sem conta, expus-me a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos por parte dos da minha raça, perigos dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos. Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e com sede, freqüentes jejuns, com frio e nudez. Pois bem, depois de toda esta enumeração, São Paulo é veraz quando nos diz: Estou cheio de consolação, transbordo de gozo em todas as nossas tribulações.
A Cruz do cristão é o portão da alegria
Em segundo lugar, é preciso afirmar que a Cruz não é o ponto final, nem na vida de Cristo nem na vida do cristão. E aí está precisamente o seu segredo e a sua grandeza.
Na vida de Cristo, a Cruz foi o caminho escolhido pela Santíssima Trindade para chegar ao triunfo da Ressurreição, que é a verdadeira meta da Redenção: a vitória do Redentor sobre o pecado, o demônio e a morte, que Jesus Ressuscitado nos oferece –como Vida nova e imortal – a todos nós. A Cruz levou Cristo ao cume do Amor, mas esse cume era como o monte que deve ser transposto para se atingir o vale da felicidade que não morre. O mistério da Cruz é mistério pascal, mistério de passagem: passagem da morte para a Vida, do pecado para a graça, da tristeza para a alegria que ninguém nos poderá tirar (Jo 16,22).Cristo, triunfante e glorificado, mostrando com imensa alegria as chagas vitoriosas da sua Paixão (cfr. Luc 24,39), derrama finalmente sobre nós o Espírito Santo, o Amor pessoal de Deus, que é o grande “fruto da Cruz”, para que inunde as nossas almas com a sua graça, com os seus sete dons e com a abundância dos seus frutos: amor, alegria, paz, paciência, bondade… (cfr. Gál 5, 22).
É por tudo isso que os autênticos cristãos nunca encararam a Cruz com ar tristonho ou com complexo de vítima. Nunca se obsessionaram neuroticamente com o sofrimento. Nunca se queixaram da Cruz santa, que é o portão da alegria. Gozaram ao sofrer, convencidos de que aquela dor não era um mal, mas a raiz de uma maior alegria. Assim, souberam carregar a Cruz às costas, com um sorriso nos lábios, com uma luz na alma, souberam abraçar a dor com alegria, dando graças ao Senhor por conceder-lhes o privilégio de participar da sua doce Cruz.
Sobre essa “arte cristã de sofrer com fé, esperança e amor” escrevi algumas páginas em outra pequena obra sobre “A paciência”, que está neste site, entre as “obras de espiritualidade”. Nela se evoca o exemplo empolgante de vários homens e mulheres do nosso tempo que sofreram com paz, com categoria, sem que se notasse, e com o coração totalmente voltado para os outros. Permita-me o leitor remetê-lo para o que lá está escrito.
Dentro dessa perspectiva, desejava terminar com umas palavras de São Josemaria, que me parecem um belo fecho para estas considerações:
“Sinais inequívocos da verdadeira Cruz de Cristo: a serenidade, um profundo sentimento de paz, um amor disposto a qualquer sacrifício, uma eficácia grande, que brota do próprio Lado aberto de Jesus, e sempre –de modo evidente – a alegria: uma alegria que procede de saber que, quem se entrega de verdade, está junto da Cruz e, por conseguinte, junto de Nosso Senhor”.
Fonte: Padre Faus e Instituto Hesed
"A alegria tem uma origem espiritual, surge de um coração que ama e se sente amado por Deus."
"Deus ama aquele que dá com alegria."
A Igreja quer recordar-nos assim que a alegria é perfeitamente compatível com a mortificação e a dor. O que se opõe à alegria é a tristeza, não a penitência.
II. ALEGRAI-VOS SEMPRE no Senhor; digo-vos mais uma vez: alegrai-vos. Devemos alegrar-nos com uma alegria que há de ser sinônimo de júbilo interior, de felicidade, e que logicamente se manifestará também exteriormente.
“Como se sabe – diz Paulo VI –, existem diversos graus de «felicidade». A sua expressão mais elevada é a alegria ou «felicidade» no sentido estrito da palavra, quando o homem, no nível das suas faculdades superiores, encontra a sua satisfação na posse de um bem conhecido e amado […]. Com muito mais razão chega ele a conhecer a alegria e a felicidade espiritual quando o seu espírito entra na posse de Deus, conhecido e amado como bem supremo e imutável”. E o Papa continua: “A sociedade técnica conseguiu multiplicar as ocasiões de prazer, mas é-lhe muito difícil engendrar a alegria, pois a alegria provém de outra fonte: é espiritual. Muitas vezes, não faltam, com efeito, o dinheiro, o conforto, a higiene e a segurança material; apesar disso, o tédio, o mau humor e a tristeza continuam infelizmente a ser a sorte de muitos”.
O cristão entende perfeitamente estas idéias expressas pelo Sumo Pontífice. E sabe que a alegria surge de um coração que se sente amado por Deus e que, por sua vez, ama com loucura o Senhor; de um coração que, além disso, se esforça por traduzir esse amor em obras, porque sabe – com o ditado castelhano – que “obras é que são amores, não as boas razões”.
Os sofrimentos e as tribulações acompanham todos os homens na terra, mas o sofrimento, por si só, não transforma nem purifica; pode até causar revolta e ódio. Alguns cristãos separam-se do Mestre quando chegam até a Cruz, porque esperavam uma felicidade puramente humana, que estivesse isenta de dor e acompanhada de bens naturais.
Para o amarmos com obras, o Senhor pede-nos que percamos o medo à dor, às tribulações, e o procuremos onde Ele nos espera: na Cruz. A nossa alma ficará então mais purificada e o nosso amor mais forte. Então compreenderemos que a alegria está muito perto da Cruz. Mais ainda: que nunca seremos felizes se não amarmos o sacrifício.
Essas tribulações que, à luz exclusiva da razão, nos parecem injustas e sem sentido, são necessárias para a nossa santidade pessoal e para a salvação de muitas almas. No mistério da corredenção, a nossa dor, unida aos sofrimentos de Cristo, adquire um valor incomparável para toda a Igreja e para toda a humanidade. O Senhor faz-nos ver que tudo – mesmo aquilo que não tem muita explicação humana – concorre para o bem daqueles que o amam.
A dor, quando lhe damos o seu verdadeiro sentido, quando serve para amar mais, produz uma paz íntima e uma profunda alegria. Por isso, em muitas ocasiões, o Senhor abençoa-nos com a Cruz.
Assim temos que percorrer “o caminho da entrega: a Cruz às costas, com um sorriso nos lábios, com uma luz na alma”.
III. O CRISTÃO DÁ-SE A DEUS e aos outros, mortifica-se e é exigente consigo próprio, suporta as contrariedades… e tudo isso, realiza-o com alegria, porque sabe que essas coisas perdem muito do seu valor se as faz arreganhando os dentes: Deus ama aquele que dá com alegria. Não deve surpreender-nos o fato de a mortificação e a penitência nos custarem; o importante é que saibamos abraçá-las com decisão, com a alegria de agradar a Deus, que nos vê.
“«Contente?» – A pergunta deixou-me pensativo. – Ainda não se inventaram as palavras para exprimir tudo o que se sente – no coração e na vontade – quando se sabe que se é filho de Deus”. É lógico que quem se sente filho de Deus experimente esse júbilo interior.
Neste sentido, a experiência que os santos nos transmitem é unânime. Basta recordar a confidência do Apóstolo São Paulo aos fiéis de Corinto: … Estou cheio de consolação, transbordo de gozo em todas as nossas tribulações. E convém lembrar-se de que a vida de São Paulo não foi fácil nem cômoda: Cinco vezes recebi dos judeus quarenta açoites menos um; três vezes fui açoitado com varas; uma vez apedrejado; três vezes naufraguei; passei uma noite e um dia à beira do abismo no mar alto. Nas minhas viagens sem conta, expus-me a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos por parte dos da minha raça, perigos dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos. Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e com sede, freqüentes jejuns, com frio e nudez. Pois bem, depois de toda esta enumeração, São Paulo é veraz quando nos diz: Estou cheio de consolação, transbordo de gozo em todas as nossas tribulações.
A Cruz do cristão é o portão da alegria
Em segundo lugar, é preciso afirmar que a Cruz não é o ponto final, nem na vida de Cristo nem na vida do cristão. E aí está precisamente o seu segredo e a sua grandeza.
Na vida de Cristo, a Cruz foi o caminho escolhido pela Santíssima Trindade para chegar ao triunfo da Ressurreição, que é a verdadeira meta da Redenção: a vitória do Redentor sobre o pecado, o demônio e a morte, que Jesus Ressuscitado nos oferece –como Vida nova e imortal – a todos nós. A Cruz levou Cristo ao cume do Amor, mas esse cume era como o monte que deve ser transposto para se atingir o vale da felicidade que não morre. O mistério da Cruz é mistério pascal, mistério de passagem: passagem da morte para a Vida, do pecado para a graça, da tristeza para a alegria que ninguém nos poderá tirar (Jo 16,22).Cristo, triunfante e glorificado, mostrando com imensa alegria as chagas vitoriosas da sua Paixão (cfr. Luc 24,39), derrama finalmente sobre nós o Espírito Santo, o Amor pessoal de Deus, que é o grande “fruto da Cruz”, para que inunde as nossas almas com a sua graça, com os seus sete dons e com a abundância dos seus frutos: amor, alegria, paz, paciência, bondade… (cfr. Gál 5, 22).
É por tudo isso que os autênticos cristãos nunca encararam a Cruz com ar tristonho ou com complexo de vítima. Nunca se obsessionaram neuroticamente com o sofrimento. Nunca se queixaram da Cruz santa, que é o portão da alegria. Gozaram ao sofrer, convencidos de que aquela dor não era um mal, mas a raiz de uma maior alegria. Assim, souberam carregar a Cruz às costas, com um sorriso nos lábios, com uma luz na alma, souberam abraçar a dor com alegria, dando graças ao Senhor por conceder-lhes o privilégio de participar da sua doce Cruz.
Sobre essa “arte cristã de sofrer com fé, esperança e amor” escrevi algumas páginas em outra pequena obra sobre “A paciência”, que está neste site, entre as “obras de espiritualidade”. Nela se evoca o exemplo empolgante de vários homens e mulheres do nosso tempo que sofreram com paz, com categoria, sem que se notasse, e com o coração totalmente voltado para os outros. Permita-me o leitor remetê-lo para o que lá está escrito.
Dentro dessa perspectiva, desejava terminar com umas palavras de São Josemaria, que me parecem um belo fecho para estas considerações:
“Sinais inequívocos da verdadeira Cruz de Cristo: a serenidade, um profundo sentimento de paz, um amor disposto a qualquer sacrifício, uma eficácia grande, que brota do próprio Lado aberto de Jesus, e sempre –de modo evidente – a alegria: uma alegria que procede de saber que, quem se entrega de verdade, está junto da Cruz e, por conseguinte, junto de Nosso Senhor”.
Fonte: Padre Faus e Instituto Hesed
Comentários