No Evangelho de São Mateus, lemos as palavras de Cristo que sintetizam a missão da Igreja: "Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" ( Mt 28, 19). Evangelizar é o primeiro dever. A catequese, neste sentido, reveste-se de uma importância fundamental. Dela depende o florescimento de uma nova geração de cristãos, precisamente porque é no estudo do catecismo que se sobressai o esforço do fiel para compreender a doutrina, celebrar os sacramentos, obedecer a Deus e ter vida de oração. Esses quatro elementos, chamados tradicionalmente de lex credendi, lex celebrandi, lex vivendi e lex orandi, estão intimamente ligados. Um conduz ao outro: a fé leva-me a celebrar, a celebração leva-me a viver e a vivência leva-me a rezar. Ao contrário, quando uma só dessas colunas é danificada, todo o edifício ameaça ruir.
Quando
não está inteiramente apagada a chama da fé, ainda resta a esperança de que se
elimine a corrupção dos costumes.
A
Igreja, ao longo dos séculos, esforçou-se amiúde para apresentar os conteúdos
da fé de maneira eficaz e frutífera. Seguindo o adágio de Santo Agostinho, "creio
para compreender e compreendo para crer melhor", não faltaram iniciativas
louváveis por parte dos pregadores, a fim de que o cristianismo encontrasse eco
em meio a sociedade. Foram mormente nos tempos de grande crise que a Igreja se
destacou na evangelização. Durante o período da Reforma, quando as teses de
Lutero pareciam irresistíveis e bastante convincentes, a resposta inequívoca do
Concílio de Trento, com o chamado Catecismo Romano, deu novo vigor a uma
doutrina aparentemente fora de moda. A fé católica, escreve Daniel-Rops, foi
ensinada "com uma nitidez, uma força e uma amplitude que nunca tinha
conhecido até então" [1]. Dada a quantidade de falsas interpretações que
pululavam à época, também os anos pós Concílio Vaticano II exigiram a
formulação de um novo catecismo, no qual os fiéis pudessem encontrar um
"instrumento fundamental para aquele ato com que a Igreja comunica o
conteúdo inteiro da fé, 'tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita'"
[2].
Eis a importância do Catecismo da Igreja Católica. Não foi por menos que Bento XVI insistiu tanto nesta questão em seu pontificado. "Sacrificai o vosso tempo por ele! Estudai-o no silêncio do vosso quarto, lede-o em dois, se sois amigos, formai grupos e redes de estudo, trocai ideias na internet. Permanecei de qualquer modo em diálogo sobre a vossa fé!", exortava o então Papa [3]. No Catecismo, os fiéis têm a segurança do Magistério da Igreja e a clareza dos ensinamentos dos Santos Padres e dos Concílios. Trata-se de um remédio salutar contra as dúvidas e as heresias. A rigor, o Catecismo é o escudo dos cristãos.
Não
é para admirar, portanto, que uma das grandes lutas do diabo seja contra a
catequese. Ele sabe que o povo de Deus se perde por falta de instrução. Diz o
profeta: "Não há conhecimento de Deus nesta terra. A maldição, e a
mentira, e o homicídio, e o furto, e o adultério inundaram tudo, e têm
derramado sangue sobre sangue" ( Os 4, 1). Nas palavras de São Pio X,
"quando não está inteiramente apagada a chama da fé, ainda resta a esperança
de que se elimine a corrupção dos costumes" [4]. Uma sociedade secundada
pela cultura cristã dificilmente cairá em desgraça, mesmo que essa cultura
subsista em uma pequena chama. O empenho de bons cristãos pode transformar a
tímida fagulha em um forte incêndio. O mesmo não se pode dizer, todavia, de uma
sociedade sem qualquer resquício de fé, porque onde "à depravação se junta
a ignorância da fé, já não resta lugar a remédio, e permanece aberto o caminho
da perdição" [5]. Palavras proféticas de um Papa que soube interpretar os
sinais dos tempos. Acaso não é a situação em que nos encontramos hoje? Um mundo
cada vez mais pervertido, porque deixou Deus de lado para entregar-se às suas
paixões. Um mundo onde a chama do cristianismo tende a diminuir a cada dia.
Alguns
apóstolos do bom mocismo, é verdade, preferem contemporizar. "Nada de
catecismo! A Igreja precisa ser mais pastoral e menos doutrinária",
ponderam. Ora, mas apascentar, responderia São Pio X, é, antes de mais nada,
ensinar a doutrina: "Eu vos darei pastores segundo o meu coração, os quais
vos apascentarão com a ciência e com a doutrina" ( Jr 3, 15). É um absurdo
contrapor pastoral e doutrina. Ambas só podem caminhar juntas. Foi ensinando o
catecismo que São Pedro Canísio preservou a Igreja na Alemanha, em uma época
cercada de contendas e incompreensões. Dele, aliás, recolhe-se um eloquente
testemunho de verdadeiro método pastoral, pois soube apresentar os princípios
cristãos de modo adequado a cada público. Não escondeu a verdade, mas ensinou-a
com caridade:
"Eis
uma característica de São Pedro Canísio: saber compor harmoniosamente a
fidelidade aos princípios dogmáticos com o devido respeito por cada pessoa. São
Canísio distinguiu entre a apostasia consciente, culpável, da fé, da perda da
fé inculpável, nessas circunstâncias. E declarou, em relação a Roma, que a
maior parte dos alemães que tinham passado para o Protestantismo não tinha
culpa. Num momento histórico de fortes contrastes confessionais, evitava — é
algo extraordinário — a aspereza e a retórica da ira — algo raro, como disse
nessa época, nos debates entre os cristãos — e visava somente à apresentação
das raízes espirituais e à revitalização da fé na Igreja. Para isto serviu o
conhecimento vasto e incisivo que ele tinha da Sagrada Escritura e dos Padres
da Igreja." [6]
O
Catecismo nunca perderá a sua importância. E contra aqueles que dizem o
contrário, fica-nos a resposta do Cardeal Joseph Ratzinger: "A atualidade
do Catecismo é a atualidade da verdade novamente dita e pensada de novo. Esta
atualidade permanecerá assim, muito para além das murmurações dos seus
críticos" [7].
A
urgência da redescoberta do Catecismo é a urgência de um mundo doente, que dá
seus últimos suspiros. Entreguemo-nos, portanto, de todo coração, à
evangelização, ao ensino, à catequese, enquanto ainda nos resta tempo, enquanto
a última chama do cristianismo permanece acesa. Sejamos Catequistas do Novo
Milênio.
Comentários