O autor da Carta aos Hebreus escreveu: “Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma doutrina profunda, porque é ainda criança. Mas, o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal” (Hb 5,13-14). Sem esse “alimento sólido”, que a Igreja chama de “fidei depositum” (o depósito da fé), ninguém poderá ser verdadeiramente católico e autêntico seguidor de Jesus Cristo.
Não há dúvida de que a maior necessidade do povo católico é a formação na doutrina. Por não a conhecer bem, esse mesmo povo, muitas vezes, vive sua espiritualidade, mas acaba procedendo como não católico. Pois, aceita e vive, por vezes, de maneira diferente do que a Igreja ensina, especialmente na moral. Deixa-se enganar pelas seitas, igrejinhas e superstições.
Papa Bento XVI
Em sua viagem à África, em 2009, o Papa Bento XVI deixou claro que a formação é o antídoto para as seitas e para o relativismo religioso e moral. Em Yaoundé, em Camarões, o Sumo Pontífice disse que “a expansão das seitas e a difusão do relativismo “– ideologia segundo a qual não há verdades absolutas – tem um mesmo antídoto, segundo Bento XVI: a formação.
Afirmando que: “O desenvolvimento das seitas e movimentos esotéricos (assim como a crescente influência de uma religiosidade supersticiosa e do relativismo) são um convite importante a dar um renovado impulso à formação de jovens e adultos, especialmente no âmbito universitário e intelectual”.
O Santo Padre pediu – encarecidamente – aos bispos que perseverem em seus esforços por oferecer aos leigos “uma sólida formação cristã, que lhes permita desenvolver plenamente seu papel de animação cristã da ordem temporal (política, cultural, econômica, social), que é compromisso característico da vocação secular do laicado”.
Sã doutrina
Desde o começo da Igreja, os apóstolos se esmeraram na formação do povo. São Paulo, ao escrever a São Tito e a São Timóteo, recomendou a eles todo cuidado com a “sã doutrina”. A Tito, o Apóstolo dos Gentios recomenda: “Seja “firmemente apegado à doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem” (Tt 1,9). “O teu ensinamento, porém, seja conforme à sã doutrina” (Tt 2,1).
A Timóteo ele recomenda: “Torno a lembrar-te a recomendação que te dei, quando parti para a Macedônia: devias permanecer em Éfeso para impedir que certas pessoas andassem a ensinar doutrinas extravagantes, e a preocupar-se com fábulas e genealogias” (1Tm 1,3-4). E “recomenda essa doutrina aos irmãos, e serás bom ministro de Jesus Cristo, alimentado com as palavras da fé e da sã doutrina, que até agora seguiste com exatidão” (1Tm 4,6). São Paulo ensina que “Deus “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).
A Igreja sempre se preocupou em formar o povo
Sem a verdade não há salvação. E essa verdade foi confiada à Igreja: “Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15). Jesus garantiu aos apóstolos na Última Ceia que “o Espírito Santo ensinar-vos-á toda a verdade” (cf. Jo 16,13) e “relembrar-vos-á tudo o que lhe ensinei” (cf. Jo 14,25). Portanto, se o povo não conhecer essa “verdade que salva”, ensinada pela Igreja, não poderá vivê-la. Mas, importa que essa mesma verdade não seja falsificada, que seja ensinada como recomenda o Magistério da Igreja, que recebeu de Cristo a infalibilidade para ensinar as verdades da fé (cf. Catecismo da Igreja Católica § 981).
Já no primeiro século do Cristianismo, os apóstolos tiveram que combater as heresias. De modo especial, o gnosticismo dualista e isso foi feito com muita formação. São Paulo lembra a Timóteo: “O Espírito diz expressamente que, nos tempos vindouros, alguns hão de apostatar da fé, dando ouvidos a espíritos embusteiros e a doutrinas diabólicas, de hipócritas e impostores […]” (1Tm 4,1-2).
A Igreja, em todos os tempos, preocupou-se com a formação do povo. Os grandes bispos e padres da Igreja como São Agostinho, Santo Ambrósio, Santo Atanásio, São Irineu e tantos outros gigantes dos primeiros séculos, eram os catequistas do povo de Deus. Suas cartas, sermões e homilias deixam claro o quanto trabalharam na formação dos fiéis.
A importância do Catecismo da Igreja Católica na formação
Hoje, o melhor roteiro que Deus nos oferece para uma boa formação é o Catecismo da Igreja Católica, aprovado em 1992 pelo saudoso Papa João Paulo II. Em sua apresentação, na Constituição Apostólica ‘Fidei Depositum’, ele declarou:
“O Catecismo da Igreja Católica […] é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição apostólica e pelo Magistério da Igreja. Vejo-o como um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé”. E pede: “Peço, portanto, aos Pastores da Igreja e aos fiéis que acolham este Catecismo em espírito de comunhão e que o usem assiduamente ao cumprirem a sua missão de anunciar a fé e de apelar para a vida evangélica. Esse Catecismo lhes é dado a fim de que sirva como texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica. O ‘Catecismo da Igreja Católica’, por fim, é oferecido a todo o homem que nos pergunte ‘a razão da nossa esperança’ (cf. 1Pd 3,15) e queira conhecer aquilo em que a Igreja Católica crê”.
A Igreja confia nos leigos
Essas palavras do Papa João Paulo II mostram a importância do Catecismo para a formação do povo católico. Sem isso, esse povo continuará sendo vítima das seitas, enganado por falsos pastores e por falsas doutrinas.
Mais do que nunca, a Igreja confia nos leigos, abre-lhes cada vez mais a porta para evangelizar. Então, precisamos fazer isso com seriedade e responsabilidade. Ninguém pode ensinar aquilo que quer, o que “acha certo”; somos obrigados a ensinar o que ensina a Igreja, pois só ela recebeu de Deus o carisma da infalibilidade. Ninguém é catequista e missionário por própria conta, mas é um enviado da Igreja. Sem a fidelidade a ela, tudo pode ser perdido. Portanto, é preciso estar preparado, estudar, conhecer a Igreja, a doutrina, a sua história, o Catecismo, os documentos importantes, a liturgia entre outros. Quanto mais conhecermos a Igreja e todo o tesouro que ela traz em seu coração, tanto mais a amaremos.
Prof. Felipe Aquino / fonte: cancaonova.com
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