“Vale mais ter paciência do que ser valente; é melhor saber se controlar do que conquistar cidades inteiras” (Provérbios 16,32).
Não há uma fórmula mágica para viver a paciência,
principalmente se o egoísmo tem raízes em nosso coração. Mas, se há amor, então
vão nos ocorrendo mil maneiras de exercitar a paciência. Quem luta por
viver em Deus, sabe que o amor cristão é movido por duas asas: a da
oração e a da mortificação. Por isso, todo o exercício da paciência
comportará necessariamente o movimento de uma dessas asas, ou, o que será mais
frequente, de ambas ao mesmo tempo.
Santo Afonso de Ligório nos diz:
“Não nos irritemos com nenhum incidente; se às vezes nos vemos
surpreendidos pela raiva, recorramos logo a Deus, e abstenhamo-nos de agir e
falar, até termos a certeza de que já foi embora”. Quando nos
sentimos à beira de uma crise de impaciência, devemos fazer o esforço
de nos calarmos. Melhor será fazer o sacrifício de guardar
silêncio, de sair, se for preciso, de perto do foco do atrito e de rezar
bem devagar alguma oração, como, por exemplo o Pai Nosso. Após essa oração, que
pode ser também uma sequencia de jaculatórias, de invocações breves, pedindo
paciência a Deus e já com a alma mais tranquila, poderemos discernir o que nos
convém fazer. Não duvidemos que o esforço de guardar silêncio, unido ao
esforço de fazer oração, sempre conduzirá para a paciência real e prática.
Ao lado da oração, mas sem deixá-la
de lado, exercitamos a paciência por meio da prática voluntária,
consciente, amorosa, de um sem fim de pequenos sacrifícios que são uma
gota de paz, de afabilidade, de bondade, sobre as incipientes ebulições da
impaciência.
Falando de forma mais prática
a) É preciso aprender a ir
além de suportar
Papa Bento XVI falava dessa
sabedoria: ”A paciência é o rosto cotidiano do amor. Nela, a fé e a
esperança também estão presentes. Porque, sem a esperança que vem da fé, a
paciência seria apenas resignação e perderia o dinamismo que a faz ir além do
esforço de suportar uns aos outros, para ir ao esforço de ser uns o suporte dos
outros. Jesus conduz-nos para a paciência que suporta e apoia o
outro”. É isso o que são Paulo nos pede na Carta aos Gálatas: ”Levai
os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6,2).
Na maioria das vezes sequer chegamos
ao ponto de suportar. Precisamos ser realistas, pois é bem verdade que tudo nos
incomoda e na maioria das vezes nem pensamos em quanto somos capazes de
incomodar os outros também. Quanto mais nos recordarmos de nossas misérias e
nos esforçarmos em sofrer as demoras, os nossos egoísmos, as nossas irritações,
tanto mais nos assemelharemos ao Cristo, que tudo suportou por amor a nós. E,
acredite, tanto mais fácil será a vida em família.
Se cada um esforçar-se em suportar o
outro e melhorar a si mesmo, a harmonia familiar será sempre fácil de alcançar.
O problema é que preocupamo-nos mais em corrigir o outro do que a nós mesmos,
em reclamar das situações do que suportá-las ou resolvê-las. Um simples
exemplo: se todos os dias ao invés de gastar meia hora reclamando com meu
esposo do sapato que fica na porta eu simplesmente pegá-lo e guardá-lo, terei
economizado 29 minutos, evitado estresse e ainda crescido em humildade e
sacrifício. E, mais, por experiência própria: na maior parte das vezes
conseguimos algo dando o exemplo e não através das palavras.
Se a impaciência vem da nossa
incapacidade de sofrer, suportar é nosso ato voluntário de aceitar sofrer e
não só isso, mas sofrer com amor. Não dá para aceitar sofrer com cara
feira, emburrada, com indiretas, com vitimismo. E isso também não é algo que se
consiga do dia para a noite, mas é fundamental que possamos ser sinceros e
identificarmos essa coisas em nós que precisam ser melhoradas.
Além disso, devemos esforçar-nos em
suportar as situações onde não há solução e oferecer amor. Como em caso de
adultério, é sempre necessário ir além de suportar. É preciso
perdoar. Também aos filhos, com suas dificuldades e incapacidades, que
exigem de nós muitas vezes mais do uma boa dose de paciência.
b) É preciso saber esperar
”Sede pacientes, irmãos. Vede como o
lavrador aguarda o precioso fruto da terra e tem paciência até receber a chuva
temporã e a tardia. Tende também vós paciência e fortalecei os vossos
corações” (Tg 5,7-8).
São Josemaria fala dessa sabedoria: ‘‘Quem
sabe ser forte não se deixa dominar pela pressa em colher o fruto da sua
virtude; é paciente. A fortaleza leva-o a saborear a virtude humana e divina da
paciência… E é esta paciência a que nos leva também a ser compreensivos com os
outros, persuadidos de que as almas, como o bom vinho, melhoram com o tempo”.
Muitos casamentos passam por grandes
crises porque os esposos ocupam-se demais em mudar o outro. Além disso, nós,
mulheres, somos especialistas em ocupar-nos com ninharias. Não nos casamos com
uma pessoa perfeita e nem nós somos esta pessoa perfeita para o outro. É
preciso aprender a ajudar o outro a crescer, o que não significa que ele será
como eu espero que ele seja. Cada pessoa é única e irrepetível, somente Deus
sabe o que é melhor para ela.
Se estamos diante de uma falta grave,
devemos corrigir as pessoas com amor e oferecer uma solução para remediar
aquele problema. Não é com brigas, gritos, discussões e reclamações cotidianas
e frequentes que a mudança vem. Além disso, precisamos saber esperar o tempo de
que as flores floresçam e os frutos possam ser colhidos. Muitas vezes não
teremos a graça de colhê-los. Recordo-me bem do exemplo da Elisabeth Leseur que
tendo uma vida interior intensa e profunda, morreu sem ver seu esposo
convertido. Mas, após sua morte, ao ler seu diário espiritual, ele se converteu
e tornou-se sacerdote. Deus tem seus caminhos.
Além disso, esperar também no sentido
de viver o sofrimento que se manifesta em forma de dificuldade, como uma
doença, um imprevisto, e tantas outras coisas, com serenidade.
c) É preciso saber calar
Como é importante calar quando a ira
ou a impaciência fervilham dentro de nós. «Não repreendas quando sentes a
indignação pela falta cometida. – Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo
ainda. – E depois, tranquilo e com a intenção purificada, não deixes de
repreender. – Conseguirás mais com uma palavra afetuosa do que com três horas
de briga» (São Josemaria Escrivá)
Falar, retrucar e cair no bate-boca:
por não saber calar é que vem o descontrole e a briga.
Paciência, escreveu Papa Francisco,
“não é deixar que nos maltratem permanentemente, nem tolerar agressões físicas,
ou permitir que nos tratem como objetos”, mas “o amor tem sempre um sentido de
profunda compaixão que leva a aceitar o outro como parte deste mundo, também
quando atua de um modo diferente ao qual eu desejaria”. “O problema surge
quando exigimos que as relações sejam idílicas, ou que as pessoas sejam
perfeitas, ou quando nos colocamos no centro e esperamos que se cumpra
unicamente a nossa vontade. Então tudo nos impacienta, tudo nos leva a reagir
com agressividade.”
d) É preciso saber falar
Quando a impaciência nos ataca, a
primeira coisa que deveríamos fazer, depois de esforçar-nos por calar, é falar
com Deus. Nunca falemos só “conosco”, com esses debates íntimos da imaginação
esquentada, que só aumentam a fúria e a amargura íntima. Menos ainda falemos,
irados, com a pessoa que provocou a impaciência, querendo mostrar-lhe que nós
temos razão e ela não.
Primeiro, portanto – e às vezes por
muito tempo –, falemos com Deus, fazendo oração: procurando ver com Ele a
verdadeira dimensão das coisas, pedindo-lhe forças para carregar a Cruz com
serenidade, suplicando-lhe que nos comunique um pouco da paciência com que
Cristo enfrentou o juízo iníquo, o caminho da Cruz e a crucifixão.
Experimentemos também invocar a nossa
Mãe, Maria Santíssima, dizendo-lhe: “Rainha da paz, rogai por nós!”
E também será oportuno, muitas vezes,
falar com quem nos possa orientar espiritualmente e aconselhar a melhor maneira
de santificar as contrariedades.
Fonte: Blog Lírio Entre Espinhos
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