Para que a Bíblia faça parte de nossa vida durante todo o ano, é preciso aprender a ler, meditar e extrair dessa fonte de vida todo o bem que ela pode nos dar. Há um método que a Igreja já vive há muitos anos e é sobre ele que falaremos agora:
“Toda a Sagrada Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra (cf. II Timóteo 3,16-17).
1- LER: É uma leitura bem ativa: lemos com lápis ou caneta na mão, sublinhando e destacando elementos essenciais como verbos, sujeitos ativos, ações, atitudes, pensamentos, situações, os motivos das ações. Mais do que ler, na verdade, relemos várias vezes, fazendo com a caneta todas essas anotações. Podemos recorrer a outras traduções que ajudem a esclarecer, lançar mão de introduções, explicações e notas de rodapé, hoje abundantes em nossas Bíblias. Podemos também comparar com as passagens paralelas, em geral indicadas nas margens das páginas da Bíblia, logo depois dos títulos etc. Esse é o primeiro estágio do mastigar e engolir. Vamos prestando atenção aos vários pontos indicados e nos deixando levar de uns para os outros a partir do seu próprio movimento interior; isso leva, de modo natural, a um surpreendente entendimento. É a luz que se faz interior. Esse imperativo interior nos conduz, de maneira deveras natural, à segunda etapa, que é quando se inicia, de fato, a ruminação.
2- SABOREAR: Poderíamos chamar essa etapa de meditar, pois, na verdade, é uma meditação da Palavra mastigada. Não o fazemos, contudo, para não dar a impressão errônea de que se trata de um trabalho puramente intelectual, por isso é preferível denominá-la saborear. É chegado o momento de sentir a Palavra. O intelecto também participa dele, mas não está sozinho. Entram também os sentimentos, a nossa liberdade movida pelo Espírito, os vários movimentos da vontade. Eis o principal momento em que devemos nos deixar impregnar pelos sentimentos que o Espírito Santo faz surgir em nós por meio da Palavra: alegria, medo, confiança, generosidade, arrependimento, esperança, entusiasmo entre outros. Os vários sentimentos, os vários impulsos que se misturam uns aos outros.
3- ORAR: Como é de se esperar, esses sentimentos nos levam a dar uma resposta. Não é tanto responder à Palavra quanto ao Senhor que, por meio dela, infundiu em nós esses impulsos. Brotam naturalmente o louvor, o arrependimento, a súplica, a gratidão, o pedido de perdão, a oferta, a adoração e assim por diante. Mais do que uma oração por palavras, essa vai ser uma oração de sentimentos e atitudes interiores. Umas poucas palavras nos prestarão simplesmente ajuda, para nos exprimirmos e nos referirmos ora ao Pai, ora a Jesus, ora ao próprio Espírito Santo. É uma oração já bem simples e sobremodo interiorizada.
4- CONTEMPLAR: Pouco a pouco, todos aqueles sentimentos que se misturavam e se multiplicavam em nós, assim como os vários movimentos de oração por eles provocados, vão se simplificando e unificando-se em nosso íntimo. É a hora da tranquilidade, da harmonia, do repouso em Deus. Eis o que significa contemplação: entrarmos, mediante a Palavra, no Templo de Deus, que existe em todos nós, e aí nos deixamos ficar repousando no Senhor. Vem a simplicidade de todos os nossos movimentos interiores. Trata-se de um movimento privilegiado, um instante de graça. Todos podem chegar a vivenciá-lo. Deus deseja vê-lo em todas as pessoas, sem distinção. Os mais simples podem chegar com mais facilidade a esse ponto; os que mais penam são os intelectuais. É lamentável que se tenha criado tanto mistério, tanta complicação acerca de algo tão simples como a contemplação, a ponto de parecer que só tem acesso a ela uma minoria, quando o Altíssimo sempre quis vê-la ao alcance de todos. Graças ao Pai, isso nos é devolvido hoje e gratuitamente.
5- ESCREVER: O ponto de chegada é a contemplação. Contudo, depois que a rede está repleta de peixes, não se pode deixar que escapem e vão embora. Apesar do gozo espiritual que a contemplação lhe traz, ponha-se a escrever: é seu Diário Espiritual, feito agora de maneira distinta e certamente muito proveitosa. Não é questão de escrever muito nem é o momento de narrar ou descrever o que se passou. Agora, temos somente de registrar: O que Deus me falou? O que Ele realizou em mim? O que deixou depositado em meu interior? Isso tudo é muito precioso, é algo que não se pode perder. Você também pode registrar: “O que, a partir dessa Palavra, Deus diz hoje de mim? O que Ele diz para mim?”. Você recolhe o conteúdo depositado em seu ser dos dois lados: o que diz de mim e o que diz para mim. Não estou fazendo um simples jogo de palavras, são duas maneiras de focalizar a questão. E não é difícil diferenciar.
Veja primeiro: O que Deus diz de mim? O que sou? Quem Ele me fez? Quais qualidades Ele mesmo me deu e quer que eu assuma e cultive? Da minha vocação e missão, do trabalho específico a mim confiado e para o qual me capacitou com os dons naturais que me deu, com os carismas do Espírito Santo de que me dotou por graça. Segundo: O que Ele diz para mim? O que Ele quer de mim? Que eu seja e que eu realize. Que atitudes quer que eu tome e o que quer que eu cultive? Por quais caminhos Ele quer que eu vá, que rumos me indica, que mudanças quer que eu assuma, o que quer transformar em mim? Convenhamos: não é nada complicado. Apresentei tudo isso apenas para você perceber a diferença e medir a amplitude daquilo que Deus possa estar dizendo a você.
*(Trecho do livro a "Bíblia foi escrita para você" de monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova).
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