Bispos das dioceses do Espírito Santo escrevem carta em solidariedade às famílias vítimas da Covid-19 e cobram atitudes de todos
Os bispos da Província Eclesiástica do Espírito Santo, composta pelas dioceses de Cachoeiro de Itapemirim, São Mateus, Colatina e pela Arquidiocese de Vitória, preocupados com o avanço da pandemia da COVID-19 escreveram uma carta se unindo aos capixabas que perderam familiares para o novo coronavírus. O número já chega a quase mil mortos. Padre Walter Luiz Barbiero Milaneze Altoé, Administrador Diocesano de nossa Diocese de Cachoeiro, também assina a carta.
No documento, os líderes católicos cobram atitudes de governos e responsabilidade dos cidadãos. Também é pedido que sejam tocados, dentro das possibilidades, os sinos de todas as igrejas católicas neste domingo (14/06) ao meio-dia, afim de recordar as vítimas fatais da Covid-19 e uma demonstração de apoio às famílias que perderam seus entes queridos.
O texto também menciona a dor de tantas vidas ceifadas, e pede união de todos no enfrentamento da Pandemia. É o momento de pensarmos no coletivo e que as vidas que se foram não tem preço. Em determinada parte também é cobrada restrições mais rígidas quanto ao isolamento social, desde que voltadas para o salvamento de vidas.
As Igrejas do Espírito Santo estão fazendo a sua parte, respeitando as normas do estado e municípios, seguindo os protocolos de segurança e zelando pela saúde de cada pessoa, sendo católico ou não. Independentemente disso, somos todos humanos e irmãos.
PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE VITÓRIA DO ESPÍRITO SANTO
Sub-regional Leste II da CNBB
Por quem dobram os sinos?
“Dias de aflição vêm ao meu encontro. Caminho ensombrecido, sem sol. Minha pele fica escura e cai. Minha cítara está de luto e minha flauta acompanha os pranteadores”
(Jó 30,27-31)
Caros irmãos e irmãs,
Dói! Dói! Dói!
Hoje atingimos em nosso Estado a triste marca de mil pessoas mortos pelo novo Coronavírus, um marco indesejável que muito nos entristece. As Dioceses do Espírito Santo: São Mateus, Colatina, Vitória e Cachoeiro de Itapemirim se unem a todas as famílias que perderam seus entes queridos para esse inimigo invisível, que ceifa vidas, transforma sonhos em pesadelos e tira nossa liberdade.
É um momento único em nossa jornada, não há muito que possa ser dito, além da oração recolhida em cada coração que sobe até ao coração de Deus. Talvez nossa reverência silenciosa, unida às nossas orações, diante de tantas vidas tombadas seja mais eloquente do que palavreados vazios. Os sinos de nossas dioceses se dobram neste dia pelas vítimas da pandemia da Covid-19, elevando a Deus nossas súplicas pelas vidas que partiram abruptamente, deixando um vazio impreenchível e um rastro de pessoas enlutadas e com lágrimas nos olhos.
O momento que estamos atravessando exige mudança no pensar, no falar e no agir, fazendo do isolamento social, mais do que um dever, tornando-o um gesto de compaixão. É preciso que cada um tenha consciência e mantenha-se em casa para evitar o contágio e, por ele, o sofrimento de outras famílias. Pede-se do poder público, em todos os níveis, atitudes sérias de governo, a fim de restringir a circulação das pessoas, sem tergiversar, pois, nesse momento, não podemos nos envergar diante das pressões de grupos econômicos. Todos devemos nos comprometer, pois ninguém, e nem nenhuma instituição, pode se omitir ou transferir suas responsabilidades diante desse trágico quadro. Não há espaço para indiferença à vida humana, principalmente quando ouvimos os apelos do Evangelho e as palavras de Jesus: “Eu vim para que todos tenha vida e a tenham em abundância!” (Jo 10,10).
O Evangelho nos compromete e interpela na direção da defesa da vida, principalmente dos mais vulneráveis, superando a lógica excludente do mercado e reconhecendo em cada pessoa um irmão e uma irmã. Sendo assim, poderíamos ter evitado muitas das mortes se as restrições adotadas tivessem sido ampliadas e não afrouxadas. De maneira especial, buscando locais adequados para isolamento dos mais vulneráveis, leitos próprios para atender os infectados que precisam de cuidados intensivos e a garantia do acesso à renda mínima para dar dignidade às famílias.
Neste sentido, as decisões políticas devem ser tomadas, estritamente, com base no conhecimento técnico e científico, caso contrário, outras milhares de vidas serão sacrificadas e muitas famílias sofrerão a perda de seus entes queridos. Ainda há tempo para que nossas ações sejam eficazes e salvem muitas vidas, a fim de que possamos sair fortalecidos como sociedade diante deste desafio global. Desse modo, unamos nossas forças, independente de qualquer elemento que possa nos diferenciar, a fim de que unidos possamos fortalecer os laços de solidariedade, cuidado e humanidade, que fazem de nós irmãos e irmãs.
Cheios de confiança e esperança no amanhã, peçamos a Deus que nos livre deste mal e nos abençoe, confiando-nos à intercessão da Virgem da Penha, padroeira do nosso Estado. Colocando-nos nas mãos do Senhor, utilizando as palavras do salmista: “na minha angustia invoquei o SENHOR, ao meu Deus lancei o meu grito; do Céu ele ouviu minha voz, meu grito chegou aos seus ouvidos”.
Dom Frei Dario Campos, ofm
Arcebispo Metropolitano de Vitória do Espírito Santo
Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias
Bispo Diocesano de Colatina
Dom Paulo Bosi Dal’Bó
Bispo Diocesano de São Mateus
Pe. Walter Luiz Barbiero Milaneze Altoé
Administrador Diocesano de Cachoeiro de Itapemirim
Comentários