Para lembrar de não esquecer.
Cara Memória,
Sei bem o quão difícil tem sido os últimos tempos para o teu legado. Desde muito sofres a dor da queda, é verdade, e por isso o teu trabalho é um tanto desconcertado… Às vezes confundem-se as recordações e então já não se distingue com clareza o que de fato, por ser oriundo da Verdade, deve permanecer.
Há alguns anos — diria décadas — tens sentido outros tantos ataques, o que prejudicou as tentativas de que registrem-se em ti os mais verdadeiros dados. Foram-se os álbuns, com suas dedicatórias ao mesmo tempo sérias e divertidas; extinguem-se, pouco a pouco, os livros, com seu cheiro e textura tão característicos; num curto intervalo de tempo velozes informações te invadem e são tantos os movimentos que quase posso apalpar teu cansaço: te percebo numa verdadeira corrida de gigantes.
Peço-te, porém, uma coisa: não te desesperes. Embora a tudo isto correspondamos, nunca seremos capazes de nos desvencilhar da emoção serena que permeia nossos corações quando adentramos no tão pouco conhecido espaço das lembranças edificantes que em ti se escondem.
Sim, é real: és tu a responsável por isto.
És guardiã de valiosos tesouros: do cheiro da comida materna aos primeiros impactos que sentimos quando despertamos para Aquele que habita em nós. A música, a palavra dita, a felicidade de súbito revelada…
Permanece, tal brasa ardente, aquilo que marca o coração com o Eterno. Além disso, tens um excelente guia: o Consolador, o que segura a outra ponta do fio condutor.
Quero, pois, te fazer um pedido: lembra-te.
Lembra-te de onde fostes tirada e aonde fostes encontrada, para que para lá nunca retornes;
Lembra-te das maravilhas que vistes e ouvistes, para que, vivas, apontem a nós e aos outros, o caminho;
Lembra-te, para que assim percebamos que neste mesmo caminho nunca estivemos a sós;
Lembra-te, e sejam eternizados os sons, os cheiros, as imagens e os toques do Criador em nós;
Lembra-te, e entrem, com respeito, as lembranças das coisas antigas, para assim descobrirmos, em nossa carne, a atualização da Boa Nova sempre boa e sempre nova.
Lembra-te, caríssima memória, para que à mínima vibração tu nos conduzas aos acordes ainda mais profundos da vontade d'Aquele que nos ama.
Sê, de todo coração, de toda força e de toda a alma, desperta, e assim todo o nosso ser esteja sempre acordado para, em tudo, recordar que é amado.
Lembra-te de não te esqueceres do Essencial. Lembra-te de amar.
Lembra-te.
Fonte: Comunidade Shalom
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