Além do diabo, o homem tem ainda outros dois inimigos, que são o mundo e a carne. Por meio deles, o demônio também executa o seu ofício, mas de maneira indireta: a própria vida que a pessoa leva potencializa a ação da carne, e o ambiente em que ela está, a ação do mundo.
A tentação é a
artimanha mais importante utilizada pelo demônio em sua missão de perder as
almas, mas não a única, pois ele conta ainda com a possessão e a obsessão.
Todavia, ambas não executam de maneira direta a intenção maior do demônio, ao
passo que a tentação sim, pois nela o homem é levado ao pecado e,
consequentemente, a se afastar de Deus.
O mundo, da mesma forma que o
demônio, é um inimigo externo do homem. Ela leva o homem a crer que sua
felicidade está neste mundo e no que ele oferece. A filosofia do mundo é
composta de carnalidade imanente: "eu quero ser feliz aqui e agora".
Este pensamento se reflete em diversas máximas: "aproveite enquanto você é
jovem", "a vida é pra isso mesmo", "aproveite a vida",
"carpe diem", etc. Em muitos casos, ela não se apresenta de maneira
explícita, mas de modo velado, para que a pessoa, sem perceber, seja nela
envolvida.
Uma outra tática da
mundanidade é utilizar-se de gozações, sarcasmo, como por exemplo, quando o
cristão, católico, devoto, vira objeto de piada, de escárnio.
Para combater esse
inimigo externo, o primeiro passo é avivar a fé no amor de Deus. A felicidade
está no céu e fixar os corações nele, em Deus, meditando seriamente sobre o vazio do mundo, sobre a morte, sobre o fim
último das coisas pode ser de grande valia para se combater o espírito mundano.
Lutar contra o
chamado "respeito humano". Esta expressão que causa bastante
confusão, ainda mais nesses tempos politicamente corretos. Na linguagem
ascética, cristã e clássica significa "vergonha de Deus por deferência ao
ser humano", ou seja, quando a pessoa está num ambiente notadamente
anticristão, não manifesta a sua fé, nem a defende, por vergonha ou medo de não
ser bem aceito.
Um outro inimigo
ainda mais potente que o diabo e o mundo é a chamada carne. A teologia espiritual explica que ela é a tendência de todo
homem para o pecado e é proveniente do pecado original. Tanto a mundanidade
como a concupiscência carnal são consequências das ações indiretas do demônio,
já os pecados da carne são ações diretas do demônio, potencializadas pelo
pecado original e pelos próprios pecados da pessoa.
A tendência carnal
se manifesta de duas formas concretas, resumidas em uma só frase: "foge da dor, busca o prazer".
Esta é a lei da carne. A mais grave é a busca do prazer. Ela nasce da
confusão do homem em confundir felicidade com prazer. A primeira vem da alma e
a segunda do corpo. O homem quer ser
feliz e, por isso, peca, pois procura a felicidade onde ela não se encontra.
Ela não está no prazer, muito pelo contrário, basta observar que a maioria dos
prazeres é seguida de uma grande tristeza, pois o corpo não dá conta de
sustentar a demanda de felicidade da alma.
A busca do prazer
(concupiscência ou ephitumia, em grego), está presente no homem porque é uma
criação divina, foi Deus quem criou o prazer. Ele criou o corpo que, para ser
sustentado, precisa ingerir alimentos, criou também o homem e mulher que, para
reproduzirem-se, precisam manter relações sexuais. Ora, tanto o comer quanto o sexo são lícitos e queridos por Deus.
Contudo, ao serem pervertidos pelo pecado original, tornaram-se fonte de
destruição do homem.
Caso a busca pelo
prazer não tivesse sido distorcida pelo pecado original, estas realidades -
boas em si mesmas - seriam trampolins para louvar e agradecer a Deus. No
entanto, houve a distorção e o homem, para satisfazer-se, vira as costas para
Deus e passa a tratar os prazeres como se fossem os verdadeiros deuses e fontes
da felicidade. Assim, no coração da vitalidade humana está também uma tendência
para a destruição e a morte.
Combater a
concupiscência é tarefa árdua, mas não impossível. O Padre Antonio Royo Marin,
em sua já citada obra "La teologia de la perfeccion cristiana",
apresenta dez "remédios"
para essa missão:
- Mortificação: mortificar-se nas coisas lícitas, renunciando a
prazeres honestos a fim de ter forças para renunciar aos ilícitos;
- Afeição ao sofrimento e à cruz: aproximar-se de Cristo na Cruz é
também aproximar-se do Amor que será pleno no céu. Não existe meio de amar
sem estar disposto a carregar a cruz e a amar os outros;
- Combate à ociosidade: usar o tempo para direcionar todas as coisas
para o bem e para Deus;
- Fuga das ocasiões perigosas: não dar oportunidade para a tentação
carnal se manifestar. Não bastam os propósitos de não pecar, pois o corpo
quer o contrário do que a alma deseja;
- Meditação a respeito da dignidade do cristão: considerar que todos
são chamados à santidade, todos têm essa alta vocação e pensar sobre ela
afasta do pecado;
- Lembrar que o Inferno existe: o castigo do pecado pode ser
aplicado tanto pela danação eterna quanto ainda neste mundo;
- Recordar a Paixão de Cristo: olhando o amor com que Jesus amou a
humanidade, doando-se inteiramente para salvá-la, faz com que haja uma
maior resistência ao pecado;
- Orar de modo humilde e perseverante: para combater o pecado é
preciso contar com a ajuda da graça eficaz. O pedido amoroso a Deus é
fundamental para que a carne seja vencida;
- Devoção terna e amorosa pela Virgem Maria: Ela foi dada à
humanidade como auxílio na luta contra o pecado. No dia em que o pecado
instalou-se no mundo, Ela foi profetizada por Deus. Maria Castíssima,
Puríssima e Santíssima ajuda no combate;
- Frequência nos sacramentos: especialmente o da Confissão e da
Eucaristia, que são escolas de santidade, importantíssimas para a
verdadeira conversão. O sistema de salvação que vem pelo sacramentos foi dado
por Deus para esta batalha;
O segundo aspecto
do combate da carne é "fugir da dor". Ela impede que a pessoa se
santifique. O sofrimento é algo importante para o homem e alguns pontos de sua
necessidade devem ser recordados:
●
O sofrimento expia os pecados: são
atos de mérito diante de Jesus;
●
Submeter a carne ao espírito: por
causa do pecado original quem manda no homem é a carne e não o espírito, por
isso é preciso domá-la, colocar limites;
●
Desapegar-se das coisas mundanas:
os quais impedem que o homem ame a Deus sobre todas as coisas;
●
A penitência purifica e torna o
homem mais belo: o objetivo do homem é deixar sua alma cada vez mais bonita,
esta é a beleza que importa realmente: a espiritual;
●
A penitência ajuda a alcançar
graças diante de Deus: a oração de quem agrada a Deus é ouvido de maneira mais
eficaz por Ele;
●
A penitência faz com que as
pessoas sejam mais apostólicas: pessoas que evangelizam mais, pois estão mais
voltadas para o outro;
●
A penitência torna as pessoas mais
parecidas com Jesus e Maria;
O Padre Royo Marin
faz distinção entre os graus de santidade. Ele diz que o grau básico é não
deixar de cumprir os deveres por serem eles dolorosos. Trata-se do salário
mínimo da virtude. Segundo, é a aceitação resignada dos sofrimentos que Deus
permite, oferecendo-os como ato de amor. Terceiro, a mortificação voluntária. O
quarto grau encontra-se somente nos grandes santos, para os quais é preferível
a dor ao prazer. O quinto grau, aquele perfeito, é quando a pessoa se oferece
como vítima de expiação, aceitando os sofrimentos mais terríveis para agradar a
Deus.
Todos os homens são
chamados à santidade. Desse modo, os graus relacionados a ela devem ser
aspirados por todos. Começando pelos primeiros é possível almejar chegar ao
último e mais perfeito, assemelhando-se aos grandes santos e santas da Igreja.
Fonte: padrepauloricardo.org
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