Nunca levantemos a espada da justiça contra nossos irmãos. Sejamos corretos no nosso agir e proceder. Sejamos justos na verdadeira menção da palavra: corretos e misericordiosos. Não amontoemos sobre os irmãos nossos julgamentos e pré-conceitos. Antes de expor o que ele está fazendo de errado lembremos sempre o quanto bem ele nos fez e o quanto seu pecado é ínfimo em relação ao amor que traz em si. Quanto maior é seu potencial de mudança do que de fraqueza. Dessa forma seremos justos no nosso juízo, bem como no empenho pela salvação de sua alma. A justiça é, de fato, a misericórdia. A porta que fica sempre aberta.
Precisamos compreender a misericórdia de Deus senão nunca entenderemos com totalidade o que significa a liberdade. Se não entendermos a forma que Deus nos ama e nos trata ficaremos sempre órfãos de um traço de sua paternidade e não poderemos ser livres, pois o amor nos torna livres. Imagine como se comporta um filho cujo pai insiste em repreender, demonstra rispidez a todo momento, quase nunca sorri ou se alegra e ali está de olhos bem abertos para vigiar sobre aquilo que o filho erra e poder corrigi-lo e até mesmo castiga-lo. Este filho não desenvolverá liberdade, será alguém retraído, inseguro, com muitos medos e receios. Será assim que enxergamos Deus? Como podemos ser totalmente livres quando achamos que existe alguém a contabilizar nossos erros?
Deus não é assim. Quão grande será a dor do coração do Senhor ao perceber que não o vemos como Ele realmente é. Deus é um pai amoroso (Lucas 15, 11ss) que ama com “entranhas de misericórdia”¹, ele é “uma mãe de ternura”¹ e não pode desdizer sua essência de amor (II Tim 2, 13). Sua misericórdia é imutável e nela não há inconstância. Pelo fato de conhecermos apenas as justiça e misericórdia humanas, corremos o risco de nivelar Deus por elas.
Somos inconstantes, Ele é firme. Somos desleais, Ele é fiel. Somos vacilantes, Ele é seguro. Somos atemorizados, Ele é coragem. Guardamos rancor, Ele esquece os pecados. Queremos o que é melhor pra nós, Ele quer e age para o bem dos seus não se importando aonde tenha que chegar pra isso (“Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único.” I Jo 4, 9a). Se trazemos em nós impressões contrárias à essência de Deus subjugamo-nos a uma sutil escravidão que sempre nos impedirá de ver a verdade, crescer em liberdade e amor filial e sermos “misericordiosos como o Pai” (Lc 6, 36) para com nossos irmãos.
¹ LARRAÑAGA, Inácio. “Irmão de Assis”.
Fernanda Rosetti
Missionária consagrada da Comunidade Encontro
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