As imagens do resgate dos beagles sendo resgatados do Instituto Royal me deixou uma pergunta: os cães estão crescendo em dignidade ou os humanos estão perdendo a dignidade? Minha reflexão passou pela parábola do filho pródigo1. Nessa história, Jesus conta a vida de um jovem filho, que se resgata da casa de seu pai para aventurar-se livremente pelo mundo. Fora da casa do pai, o jovem acaba por viver com os porcos, a viver como um porco, comia da mesma comida deles e, quem sabe, não partilhava com ele as suas dores. Os porcos eram os seus companheiros.
Quem garante ao homem a dignidade humana é Deus. Longe do Pai, o homem perde seu valor, acaba por viver como animal e, como aquele jovem filho, a fazer de seus companheiros, os animais.
Não é um tanto isso que assistimos numa sociedade que declarou a morte de Deus? O caso dos beagles só põe em evidência uma grave perda de referência da dignidade humana. As pessoas não querem mais esposos e filhos, que exigirão delas a grandeza do amor humano. Querem animaizinhos que afaguem suas carências, mas, sem o risco de uma hora ou outra ter que discutir a relação. Sem a grandeza dos desafios de ser gente com gente, resta fazer dos bichos seus entes amados. Aí surgem as aberrações como o projeto de lei, na cidade de São Paulo, que quer velar e enterrar animais em cemitérios humanos; socialites que celebram aniversários e noivados de seus bichinhos; ou ainda, casais divorciados que brigam na justiça pela guarda do animalzinho, como se fosse uma criança.
Alguém pode retrucar: mas, valorizar os animais não significa desvalorizar a pessoa humana. Será? Então, porque é proibido e desumano as arenas onde galos de digladiam, mas, é pico de audiência homens (mais ainda, mulheres!), se massacrarem em arenas de MMA? Por que os ovos de tartarugas são protegidos por lei e os embriões humanos podem ser descartados? Por que animais não podem ser usados em pesquisas e humanos podem (isso foi dito por alguns dos invasores do Instituto mencionado)? Por que tantas crias de bichinhos são diariamente “fabricadas” e assumidas por famílias, mas, as crias humanas (que são desestimuladas), crianças órfãs, não são igualmente adotadas? Não são esses exemplos que denunciam que existe uma gangorra? Quando os animais se tornam gente, a gente se torna animal? Essas são coisas de um mundo sem Deus.
Aliás, quase num parênteses neste texto, li no jornal “Estadão” uma discussão no sentido de criar leis que garantam os direitos das várias espécies mais evoluídas (foi o que eu entendi). Não sou jurista, mas, sei que os direitos se respaldam em deveres. Que deveres se pode exigir de um cão, de um macaco ou de um outro animal qualquer? Será que realmente esses seres são dignos de direitos? Parece-me o contrário, nós é que devemos respeitá-los e cuidá-los, mas de forma proporcional às suas condições sub-humanas.
É verdade que o coração da gente, olhando a carinha daqueles beagles, se enche de compaixão. É verdade! Mas aí deve entrar em cena um privilégio que temos, enquanto a espécie de animal que somos: a razão. É lógico parar todo avanço científico ou submeter pessoas humanas aos testes, em nome dessa compaixão? Se fosse, então, deveria ser abolida toda carne de nossas mesas. Se o Instituto Royal deve ser invadido, porque não fazer o mesmo com os inúmeros abatedouros dos mais diversos animais pelo país? Se for lógico, todos seremos vegetarianos e negaremos a milenar tradição humana de se alimentar de proteína animal. Mais ainda, se o cientista é perverso, o açougueiro é um monstro e, então, vamos prender os leões que abatem impiedosamente filhotinhos, fofinhos, pelo mundo animal a fora.
No livro do Gênesis2, Deus apresenta “os animais do campo e os pássaros do céu” ao homem, que designa o nome de cada um. Porém, os animais não são a “ajuda que lhe é adequada”. Somente a mulher atende a esse anseio do homem, que exclama: “Eis, dessa vez sim, ossos dos meus ossos e a carne de minha carne”. Na inspirada linguagem bíblica, fica claro que o companheiro adequado de um ser humano é somente outro ser humano. Os animais estão submetidos ao homem e existe para servi-lo. O “cão é o melhor companheiro” do homem, mas, dentre os animais. Se quisermos companhias assim, que o seja enquanto criação. Enquanto criação, o bicho pode até ser companheiro, mas, está a serviço do homem. Pode ser até um serviço de ordem psicológica, mas, não é mais que um servidor amigo. Porém, se quisermos um companheiro que nos ensine a ser gente de verdade, que revele o êxtase de nossa existência, não existe outro, senão alguém tão grande e exigente como um semelhante a mim, um digno e verdadeiro ser humano.
Viva cada ser humano que está no meio de nós ou na eternidade!!!
1- Lc 15, 11-322- Gn 2, 18-34
André Luís Botelho de Andrade
Fundador da Comunidade Católica Pantokrator
Fonte: Com. Pantokrator
Fundador da Comunidade Católica Pantokrator
Fonte: Com. Pantokrator
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